Por joyce.caetano

São Paulo - A resposta das gordinhas está na ponta da língua. A culpa dos quilinhos extras é do estresse e da gravidez. Esse discurso, tão comum por aí, agora ganhou peso científico. Uma pesquisa realizada por uma farmacêutica em parceria com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), que entrevistou 500 mulheres moradoras das cidades de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Salvador, mostrou que a mulheres acima do peso creditam a obesidade a esses dois fatores. Entre as pesquisadas, 37, 6% atribuíram o excesso de peso ao estresse e 32%, a gravidez.

De acordo com dois médicos ouvidos pelo iG o motivo dado pela maioria das pesquisadas não condiz com a realidade.

“Não dá para dizer que é uma desculpa, mas atribuir o sobrepeso a um ou dois fatores é muito simplista”, disse o psiquiatra Adriano Segal, responsável pelo Setor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso.

O endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Henrique Suplicy foi mais taxativo: “Estresse não engorda, o que acontece é que no estresse a pessoa pode até engordar. O que vemos é que normalmente pessoas gordinhas engordam quando estão estressadas, já os magrinhos, emagrecem”, disse.

“A gente aprende desde cedo que comida é prêmio, a gente comemora com comida”, disse Suplicy. O médico afirma que a gravidez pode ser o começo para que a mulher comece a engordar, mas que não é necessariamente o motivo do ganho de peso. “A gente sempre tem que ter um bode expiatório”, disse.

Segal defende que existem mais de 100 motivos para a obesidade e o sobrepeso. “Muitos deles ainda desconhecidos pela ciência”, diz. Suplicy sugere quatro categorias: problemas glandulares (muito raros), tendência, excesso de comida e falta de exercício.

A psicóloga Marilice Rubbo de Carvalho, que participou da pesquisa, discorda dos dois médicos. “Existem as razões secundárias do estresse, quando a pessoa já acorda cansada, sem disposição para a prática de exercício e de seguir uma dieta”, disse.

Para ela, no entanto, o ponto mais interessante da pesquisa foi o destaque para a relação emocional com a obesidade.

“Embora as pessoas neguem a necessidade de psicólogos para o tratamento de obesidade e sobrepeso, os motivos dados pelos pesquisados, mesmo que inconscientemente, mostram uma relação emocional e de ansiedade com o aumento de peso”, disse.

Reportagem de Maria Fernanda Ziegler

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