Rio - Estar insatisfeito com o corpo pode parecer comum, mas é considerado um transtorno psicológico quando o sentimento ganha contornos de obsessão. O distúrbio, conhecido como ‘dismorfofobia’, pode levar a depressão e cirurgias plásticas em série: ele atinge 14% das pessoas que já fizeram ou pensam em realizar intervenções estéticas, segundo pesquisa da USP. O desafio é diagnosticar para possibilitar tratamento adequado: psiquiátrico, não estético.
O transtorno faz com que o paciente se veja de uma maneira diferente, criando problemas onde não existem ou mesmo aumentando pequenos defeitos. “Ele considera o aspecto constrangedor, por mais que ninguém compartilhe dessa visão”, explica o psiquiatra Sander Fridman.
A percepção exagerada sobre o próprio corpo leva a uma série de prejuízos. Há quem deixe de se relacionar e evite circunstâncias sociais em que a ‘imperfeição’ pode ser percebida, desenvolvendo uma espécie de fobia que pode atrapalhar até a vida profissional. A preocupação com a aparência pode levar à depressão e, em casos mais graves, ao suicídio.
Bisturi não resolve
Para o cirurgião Luiz Victor Carneiro Jr, é difícil perceber sintomas do transtorno nos pacientes que procuram plásticas. “Há casos gritantes, mas muitos são sutis nas reclamações”, afirma, destacando que a orientação é não realizar o procedimento ao perceber a dismorfofobia. “O profissional precisa negar a operação e, dependendo, até indicar o tratamento psiquiátrico”, diz.
No caso de quem tem o transtorno, intervenções estéticas não surtem efeito. “O paciente com o problema acha que está pior, porque a percepção não está ligada à realidade”, ressalta. Um dos casos famosos é o do cantor Michael Jackson, morto em 2009, que teria realizado 50 cirurgias no rosto, segundo especialistas. Apesar de admitir a insatisfação com a aparência, o Rei do Pop sempre negou o número de operações.
Causas são emocionais
As causas da dismorfofobia não são completamente esclarecidas pela ciência, mas especialistas acreditam que esteja relacionada a problemas psicológicos do paciente. Segundo Sander Fridman, as emoções são muito complexas para serem abaladas apenas por questões de aparência. “Este tipo de transtorno é associado a dificuldades sociais que refletem no comportamento“, explica.
O tratamento, que tem duração variada, exige terapia para que o paciente descubra a origem do problema e busque formas para se aceitar. “A pessoa tem que aprender a lidar com seus problemas e transformar a angustia em estratégia de relacionamento”, completou o psiquiatra do Hospital Adventista Silvestre.