Por nara.boechat
Rio - Diagnosticado com tuberculose, pesando 40 kg e com limitações físicas, Juarez da Silva, 46 anos, chora ao lembrar o que salvou sua vida, há sete meses: as visitas diárias de profissionais de saúde à casa onde mora, na Rocinha. O pedreiro é um dos personagens da nova história escrita na comunidade, que sempre concentrou os piores índices da doença, no Brasil e no mundo. Entre 2010 e 2012, as mortes pela doença caíram nada menos que 60%. E o índice de abandono do tratamento diminuiu em 30%.

As duas vitórias são reflexo direto do fato de o programa de Estratégia de Saúde da Família ter alcançado a cobertura de 100% da comunidade em 2010. “O agente comunitário de saúde visita todos pacientes com tuberculose. Eles podem receber medicamento em casa ou na unidade de saúde. Isso garante a continuidade e a cura”, diz a pediatra e sanitarista Patrícia Durovni, autora da dissertação de Mestrado ‘Tuberculose na Rocinha: análise de indicadores epidemiológicos e operacionais após a cobertura de 100% da Estratégia de Saúde da Família’. Hoje, há três unidades de saúde na Rocinha, que atendem a todos os moradores, garantindo o diagnóstico precoce e continuidade do tratamento. “Antes havia muitos casos de diagnóstico em hospitais, o que significa que a doença era descoberta em estágio avançado, com reduzida chance de cura”, aponta, acrescentando que a coleta para exame diagnóstico é feita em casa atualmente.

Agente comunitária de saúde%2C Patrícia de Macedo acompanha de perto Juarez. A filha dele%2C Ana Maria também contraiu a tuberculose ano passado e fez o tratamento na ClínicaAlessandro Costa / Agência O Dia

O local mais próximo para se tratar, até 2010, era o Centro de Saúde Píndaro Carvalho Rodrigues, na Gávea, a 4 km. O tratamento dura pelo menos seis meses e exige a ingestão diária de comprimidos, o que desestimula muitos doentes. Segundo o estudo, o abandono de tratamento caiu de 11% para 7,5% entre 2010 e 2012. E a taxa de óbito, de 18,7 para 7,2 (por cem mil habitantes), a menor desde 2001.

A incidência da doença, em 2012, ainda foi alta: 423 casos por cem mil habitantes, quase 12 vezes a média nacional (36,1). Mas a pesquisadora crê que isto se deva também ao maior número de diagnósticos.
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Subsecretário de Atenção Primária da Secretaria Municipal de Saúde, Daniel Soranz lembra que a Rocinha tem aspectos que favorecem a transmissão, como vielas e casas próximas. “O segredo é o acompanhamento sempre feito pela mesma pessoa. Isso cria vínculo e ajuda na cura”, declara. Juarez está na metade do tratamento de um ano. “Com chuva, sol quente, violência, o profissional vai à minha casa, conhece minha família. Isso me salvou”.
Remédio na mão
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Em 2007, a pensionista Maria de Fátima Martins, 49, descobriu, no Hospital de Ipanema, que as constantes tosses eram tuberculose. O tratamento foi feito no centro de saúde da Gávea. Há dois anos, recebeu novo diagnóstico da doença, porém a cinco minutos de casa, na Clínica da Família Albert Sabin, na Rocinha. Hoje, ela está curada. “Era mais de meia hora só para esperar o ônibus para pegar o remédio fora da Rocinha. Na Clínica da Família, recebi tratamento VIP”, brinca. O vigia Lauro Oliveira, 57, termina o tratamento de nove meses em janeiro. “Facilita finalizar o tratamento tendo remédios perto de casa. Aqui também faço os exames para monitorar a doença”.