Usuários elogiam cigarro eletrônico, mas especialistas em saúde dizem que pode ser nocivo
Por thiago.antunes
Rio - Entre os usuários, elogios e relatos de benefícios à saúde. Para especialistas em saúde, faltam estudos consistentes, e o produto deve ser banido até que se comprovem os efeitos sobre o organismo. Novidade no mercado, o cigarro eletrônico já causa polêmica. Apesar de proibido no Brasil desde 2009, o aparelho não para de ganhar novos adeptos.
A professora Juliene Martins Faleiro, 45 anos, é uma das fumantes, quer dizer, ‘vaporizadoras’. O termo é usado porque, na versão eletrônica, não há queima de substâncias. Fumante desde os 14 anos, Juliene aderiu à novidade há três meses, ao ver os efeitos do fumo na saúde da mãe, vítima de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). “Decidi que não queria o mesmo para mim.”
Adquirido num site, o produto chegou em uma semana e a lista de vantagens, na opinião da usuária, é longa. “Raciocínio, paladar e as dores que eu tinha melhoraram”, comemora, acrescentando que vem reduzindo a quantidade de nicotina que coloca no dispositivo. “Mas não quero largar o fumo.”
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Gerente geral de Tabaco da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ana Cláudia Bastos Andrade explica que o cigarro eletrônico ainda é considerado um produto desconhecido. Segundo ela, faltam informações sobre os componentes dele, além de análises químicas e pesquisas confiáveis sobre os seus efeitos no corpo. “A Anvisa fez uma consulta pública e não recebemos elementos suficientes para deixar de proibir a comercialização no Brasil.”
De acordo com resolução publicada em agosto de 2009, no país é proibida comercialização, importação e propaganda do cigarro eletrônico. Ana Cláudia esclarece que o aparelho poderia ser classificado como produto do tabaco e, assim como os maços tradicionais, ter a venda permitida. A questão é: nenhuma empresa solicitou o resgistro na Anvisa.
Norma pode mudar
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Para ter registro, o produto deve passar por análises da composição, além de inserir na embalagem a advertência sobre o perigo do fumo. Segundo a gerente, o cigarro eletrônico, assim como o tabaco convencional, deve ser banido de ambientes fechados, de acordo com a Lei Antifumo. “Proibimos o cigarro eletrônico, mas a norma não é engessada. Quando mostrarem novos dados, podemos discutir”, garante.
O Instituto Nacional do Câncer segue o posicionamento da Anvisa e da Organização Mundial de Saúde e considera que a segurança dos cigarros eletrônicos ainda não foi cientificamente demonstrada.
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Ineficaz contra dependência psicológica
O cigarro eletrônico pode ser usado como gomas e adesivos de nicotina com o objetivo de largar o fumo? A resposta é não. Além da falta de estudos que comprovem a eficácia para o tratamento antifumo, há outro problema: o design e o modo de usar do aparelho são semelhantes ao tabaco tradicional. Stella Martins, da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira, lembra que a dependência e, consequentemente, o tratamento envolvem aspectos comportamentais e psicológicos.
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Ela conta que, em muitos casos, o cigarro é visto como ‘amuleto’ para esquecer os problemas e que o ideal é que paciente aprenda a lidar com as dificuldades sem o fumo. “O movimento de tragar e soltar a fumaça relaxa. O cigarro eletrônico não trata, mas alimenta a dependência psicológica e comportamental das pessoas”, alerta.