Rio - Nesta quarta-feira, a Rússia acusou a Otan, Organização do Tratado do Atlântico Norte, de usar a linguagem da Guerra Fria ao suspender a cooperação com Moscou, e disse que nenhum dos lados vai ganhar com a mudança.
De acordo com o governo russo, a decisão de chanceleres da Otan em suspender nesta terça a cooperação prática com a Rússia, em protesto contra a anexação da região ucraniana da Crimeia, criou uma sensação de 'déjà vu'. "A linguagem dos comunicados se assemelha às disputas verbais da era da 'Guerra Fria'", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo Alexander Lukashevich em comunicado.
O porta-voz afirmou que na última vez que a Otan tomou essa decisão, a respeito da guerra de cinco dias da Rússia com a Geórgia em 2008, a aliança de defesa acabou retomando posteriormente seu próprio acordo de cooperação.
"Não é difícil imaginar quem vai ganhar com a suspensão da cooperação entre a Rússia e a Otan no combate às ameaças e desafios modernos à segurança internacional e europeia, especialmente em áreas como a luta contra o terrorismo, a pirataria e os desastres naturais e provocados pelo homem", disse Lukashevich.
"Em qualquer caso, certamente não serão a Rússia ou os Estados-membros da Otan."
Suspensão
A Otan anunciou na terça que vai suspender "toda cooperação prática militar e civil" com a Rússia por causa da ocupação eanexação da região ucraniana da Crimeia por Moscou. A organização também pediu a seus generais e almirantes que rapidamente pensem em formas para proteger membros da aliança que se sentem ameaçados pelo Kremlin de Vladimir Putin.
A decisão foi tomada por chanceleres da Otan, que pediram à Rússia em um comunicado que "tome passos imediatos para voltar a cumprir a legislação internacional". A medida da aliança de 28 membros, a base da segurança dos EUA e da Europa desde o fim da Segunda Guerra (1939-1945), também é uma reação à sua mais crise séria em anos: os EUA e seus aliados consideram a anexação da Crimeia uma ação ilegal.
A Otan e a Ucrânia divulgaram um comunicado conjunto após um encontro de ministros em Bruxelas em que dizem que vão intensificar a cooperação e promover reformas na defesa ucraniana por meio de treinamentos e outros programas.
Entre as medidas estão a suspensão de "toda cooperação prática civil e militar" entre a Otan e a Rússia. Autoridades da aliança afirmaram que contatos no nível de embaixador continuarão abertos para garantir um confiável canal de comunicação; o possível envio e reforço de unidades militares nos membros da Otan da região oriental, como Polônia e Estados Bálticos, que se sentem ameaçados pelas ações mais recentes de Moscou e o possível aumento dos níveis de prontidão para a força de resposta rápida da Otan.
O comandante supremo da Otan, general Phil Breedlove, e seus subordinados formularão as propostas dentro de poucas semanas e então as submeterão aos líderes políticos para sua aprovação, disse uma fonte da aliança militar.
Fronteira com a Ucrânia
Antes do encontro, o chefe da Otan, Anders Fogh Rasmussen, subestimou as informações de uma retirada militar russa das áreas ao longo de sua fronteira com a Ucrânia. O Ministério da Defesa russo disse na segunda-feira que um batalhão - cerca de 500 soldados - havia recuado.
"Isso não é o que vemos", disse Rasmussen. "E esse massivo reforço militar de nenhuma forma pode contribuir para frear a escalada da situação - algo que todos queremos ver. Então eu continuo a pedir à Rússia para retirar suas tropas, para respeitar sua obrigação internacional e se engajar em um diálogo construtivo com a Ucrânia."
Estimados 35 mil a 40 mil soldados russos equipados com tanques, veículos blindados e aeronaves fixas ou rotatórias continuaram posicionados perto da fronteira com a Ucrânia, disse uma fonte da Otan à Associated Press na terça. Ele descreveu o reforço russo como "uma completa força de combate" altamente ameaçadora contra a Ucrânia.