Por daniela.lima

Rio - Como lidar com alguém que não desgruda da tela do celular mesmo no meio de uma conversa? Pesquisa internacional descobriu que 89% das pessoas — de um universo de 2.025 entrevistadas — consideram que o uso inoportuno dos smartphones e tablets é mais que irritante. Não há dúvida de que as redes sociais aproximam amigos e parentes que moram em locais distantes. Mas as checadas constantes nos aparelhinhos portáteis, para a maioria dos entrevistados, estão esfriando e desgastando as relações ‘ao vivo’.

Thiago%2C que se entrega ao videogame toda noite%2C namora Laura%2C que passa muito tempo no celular. Mãe da moça%2C Gabriela usa o tabletCacau Fernandes / Agência O Dia


Nove em cada 10 entrevistados contaram que ao menos uma vez por semana amigos ou parentes se distraem da conversa para checar notificações e mensagens de texto. E, ainda, 25% dos participantes revelaram já ter tido sérios atritos com pessoas próximas por conta disso.

O impacto é maior sobre casais com mais tempo de convívio, diz Sabrina Vasconcelos, coordenadora de Psicologia do Hospital São Francisco na Providência de Deus. “No começo da relação, essas tecnologias funcionam como um facilitador do afeto. Elas mandam mensagens de texto de carinho ao longo do dia, o que faz parte do jogo de sedução de hoje em dia”.

Com a convivência, os dispositivos passam de cupidos a mensageiros incompetentes. “Nos relacionamentos já desgastados, com problemas não resolvidos, o uso da tecnologia pode virar um refúgio perigoso para que essas pessoas não entrem em contato uma com a outra. Nesse caso, serve mais para afastá-las do que para aproximá-las”.

O futuro designer Thiago Nunes, 28 anos, se ressente da eventual falta de interesse da namorada pela troca ‘ao vivo’ com ele, quando ela escapa para a realidade virtual. “Esse hábito deveria ser menos compulsivo, e jamais em momentos de interação real”, reclama. A namorada dele, Laura Vianna, 24, usa o celular para checar as notificações de suas contas no Facebook, Whatsapp, Instagram e Foursquare. Ela insiste que usa pouco, mas é o suficiente para deixá-lo irritado. “Ele reclama, diz que eu sou viciada, fala ‘larga o celular’, ‘sai do Facebook’! Eu digo o que estou fazendo para ver se ele considera importante. Às vezes estou marcando de sair e preciso ficar de olho nas mensagens”.

“Houve vezes em que reparei que estava rolando uma conversa paralela entre eu e minhas amigas pelo Whatsapp, com as mesmas pessoas que estavam numa mesa. Quando isso acontece, fico até meio assustada”, diz, rindo.

ENTRE O NORMAL E O PATOLÓGICO

Curiosidade de checar mensagens não pode desrespeitar o próximo 

Não há mal em ter curiosidade de visualizar mensagens. O preocupante é o excesso, que desrespeita o interlocutor. “Um jantar em que pai, mãe e filho não se olham, nem falam, porque cada um está num celular, entra num nível patológico”, observa a psicóloga Sabrina Vasconcelos. Uma das entrevistadas da pesquisa chegou a mandar e-mail ao marido que estava sentado à sua frente. “Ela diz que foi a única maneira de conseguir atenção dele, que estava toda voltada para o smartphone”, conta Rodrigo Lolato, diretor nacional da VitalSmarts.

O psiquiatra Sander Fridman diz que as relações estão sendo transformadas pelos ‘gadgets’, mas que é preciso combater a tendência de definir como ‘doenças’ novos hábitos culturais. “Smartphones não inventaram pessoas desatentas e que não valorizam o contato pessoal”, afirma. Sabrina acrescenta que é normal se distrair quando o assunto é desinteressante. “Conversar com outro amigo pelo Whatsapp, nessas situações, é nova versão do que ocorre quando, num grupo grande, duas ou três pessoas ‘se separam’ para uma conversa paralela”.

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