Por clarissa.sardenberg

Austrália - Junto aos 298 passageiros que morreram com o ataque ao Boeing 777, da Malaysia Airlines, estava a esperança da cura da Aids. O avião, derrubado por um míssil quinta-feira, na Ucrânia, levava 108 pesquisadores e especialistas na doença, que viajavam para participar da 20ª Conferência Mundial de Aids, que vai de amanhã até dia 25, em Melbourne, Austrália.

Presidente da International Aids Society, Chris Beyrer, conversa com a imprensa após acidente na Ucrânia EFE

O MH17 saiu de Amsterdã, na Holanda, em direção a Kuala Lumpur, na Malásia. A aeronave caiu em local perto da fronteira com a Rússia, dominado por rebeldes que desejam que o território passe a pertencer à Federação Russa. Os governos da Ucrânia e da Rússia acusam-se mutuamente pelo abate do avião.

Entre as vítimas, estava o responsável pelo evento, Joep Lange, 59, pesquisador há mais de 30 anos e ex-presidente da Sociedade Internacional de Aids. Ele era considerado referência devido à luta para garantir acesso barato ao tratamento em países pobres, sobretudo da Ásia e da África. Recentemente, Lange divulgara estudo que demonstrava, pela primeira vez, como um composto probiótico poderia atuar no vírus HIV. A esposa do cientista holandês, Jacqueline van Tongeren, também estava no voo MH17.

Para cientistas, a queda do avião é uma perda para a Ciência. “A cura da Aids poderia estar a bordo daquele avião, simplesmente não sabemos”, disse Trevor Stratton, um consultor canadense sobre Aids que estava em Sydney para um pré-evento.

A Unaids, programa conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, divulgou nota lamentando as mortes. Ontem, durante a cerimônia de boas vindas para os cientistas que chegaram a Melbourne, os organizadores da Conferência falaram da perda dos pesquisadores. “É um momento difícil. Perdemos amigos e ativistas, pessoas que eram a voz dos sem voz”, disse Michel Sidibé, diretor executivo da Unaids.

Segundo a diretora da Unaids Brasil, Georgiana Braga-Orillard, muitos holandeses estavam cadastrados para o voo atacado. Ela ressalta que a Holanda é um país que financia muitos projetos e possui um debate avançado sobre a Aids. Outra vítima foi o jornalista inglês Glenn Thomas, 49, que trabalhava na Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra. São esperados 12 mil participantes na Conferência sobre Aids, entre eles o ex-presidente americano Bill Clinton.

ESCUTA INCRIMINA SEPARATISTAS

A Ucrânia divulgou gravação de conversas entre separatistas pró-russos, ocorrida logo após a queda do voo. Quatro homens falam sobre a tragédia.

“Acabamos de abater um avião”, diz um deles. Alguns minutos depois, outro fala: “Gente de Chernukhin (uma das localidades controladas por separatistas) derrubou o avião. Os cossacos (como se autodenominam os rebeldes, em referência a povo que habitou a região no século XVII) em Chernukhin.”

Depois, há frases como: “O avião se desfez no ar”; “Foi uma aeronave 100% de passageiros”; “Absolutamente nada (de armas). Itens civis, material medicinal, toalhas, papel higiênico”.

O comandante cossaco Nikolay Kozitsin fala com um militante e sugere que o avião poderia estar carregando espiões. “Disseram que está escrito Malaysia Airlines nele. O que ele estava fazendo no território ucraniano?”, questiona o homem. “Significa que estava carregando espiões. Eles não deveriam estar voando aqui. Há uma guerra em andamento”, afirma Kozitsin.

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