Por thiago.antunes

Rio - Deixar de amar o parceiro e não querer levar adiante um casamento infeliz é um direito de qualquer pessoa. O desafio é saber lidar de forma madura com o fim, e não envolver os filhos em brigas e competições, segundo especialistas. Agressividade, melancolia, isolamento e até queda no desempenho escolar são alguns dos sintomas que crianças e adolescentes podem ter em meio ao turbilhão de sentimentos que uma separação traz.

‘Sua mãe (ou pai) não gosta mais da gente, por isso saiu de casa’. Frases como esta, ditas frequentemente por adultos, são capazes de destruir a autoestima de uma criança e colocar em suas costas a culpa pelo término do relacionamento. De acordo com o chefe da psiquiatria infantil da Santa Casa de Misericórdia, Fabio Barbarito, muitos pais e mães esquecem que não devem de forma alguma desabafar com seus filhos. “É um crime, independentemente da idade que ele tenha, usá-lo para descarregar mágoas como se fosse seu ombro amigo”, alerta.

Exemplo positivo%3A Renata e o ex-marido%2C Leonardo%2C preservam momentos com o filho Miguel%2C 4 anos%2C para fazê-lo feliz e seguro Alexandre Vieira / Agência O Dia

Outra atitude nada aprovada pelo psiquiatra é usar a criança como moeda de troca, fazendo ameaças ao ex através do filho, como por exemplo deixar de dar algo à criança para ‘castigar’ o outro. Tentativas de convencer os filhos de que o casamento ainda existe, mesmo quando não há mais uma relação, abalam ainda mais os meninos, já que, mesmo pequenos, percebem o que é ‘teatro’, diz Barbirato.

A psicanalista Priscila Gasparini lembra que crianças, não confortáveis com as mudanças, podem apresentar dificuldade para se relacionar na escola, nervosismo, problemas para comer e comportamentos de crianças mais novas. “Já os adolescentes não aceitam as orientações dos pais e ficam agressivos”.
Entre os menores, acontece a somatização: insegurança e medo decorrentes da separação dos pais aparecem em forma de sintomas físicos, como enjoo, dores e febre.

Mas existem formas de amenizar essa angústia, e isso depende da forma como o ex-casal conduz a situação, segundo a psicóloga Robertha Haddad Blatt. O indicado é conversar com o filho, sempre levando em consideração sua idade — quando bem pequenos, é bom adotar um diálogo lúdico —, deixando claro que ele ainda poderá contar com os dois e que a família não acabou.

Procurando a melhor maneira de cuidar de Miguel, de apenas 4 anos, Renata Rodrigues, 43, e Leonardo Botelho, 40, mantêm uma relação respeitosa e tomam decisões em conjunto sobre a educação do menino. “Quando nos separamos, Miguel estava com 1 e 8 meses, procuramos a creche e pedimos orientações. No começo, foi complicado,” conta a estilista. O bebê estranhava a casa do pai, mas depois de um mês, tudo foi se normalizando. Hoje, os dois convivem bem e preservam momentos só dos três, o que deixa Miguel muito feliz.

Problemas e soluções

- Até 3 anos

Apesar de não entenderem o que é um divórcio, crianças desta idade sentem a ausência de quem foi embora. Podem transformar a tristeza em sintomas físicos como dores, enjoo e febre, ou chorar muito ao se separar de um dos pais. Nos primeiros finais de semana na casa do pai, a mãe pode ir junto, para a criança se sentir confiante. Se estiver matriculado em uma creche, é bom conversar com a equipe de psicólogas e estabelecer uma parceria.

- De 4 a 5 anos

Estão na fase de formação de autoestima e dos grupos de amizades. Podem perder a confiança em si mesmos. Esclarecer que a responsabilidade pela separação não é dela ajuda. E demonstrar satisfação durante o período que o filho passa com o(a) ex-parceiro(a) também, para evitar que a criança sinta culpa.

- De 6 a 10 anos

Ficam agressivos e podem ter problemas de desempenho escolar. Também se sentem responsáveis pelo que aconteceu e podem apresentar melancolia e vontade de se isolar. Estão em uma fase do desenvolvimento em que constroem identificações com as figuras dos adultos. É imprescindível o contato frequente tanto com o pai quanto com a mãe.

- Adolescentes

Como já são maiores e mais conscientes, podem se sentir no dever e no direito de forçar uma reconciliação. Quando os pais não voltam, há muita frustração e decepção. Podem ficar com dificuldade em receber ordens e até se recusar a manter relações com um dos progenitores. É importante que pai e mãe não desabafem sobre os problemas íntimos com o filho, mesmo que ele se mostre maduro.

Colaborou Isabela Borges

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