Por leonardo.rocha

Ucrãnia - Cerca de cem caminhões, parte de um comboio russo que havia cruzado a fronteira leste da Ucrânia, retornaram à Rússia neste sábado. O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, tinha acusado a Rússia de "flagrante violação da lei internacional" após a entrada de 220 veículos na sexta-feira.

A chanceler alemã, Angela Merkel, que está na capital ucraniana, Kiev, para negociações com Poroshenko, classificou o ato de "escalada perigosa". O comboio foi até a cidade de Lugansk, que está sob controle dos grupos separatistas pró-Rússia que vêm combatendo as tropas do governo da Ucrânia.

Caminhões de contestado comboio de ajuda humanitária russo são vistos em fila em seu retorno à Rússia no posto de fronteira de Izvaryne%2C leste da UcrâniaReprodução Internet


O Kremlin disse que os caminhões transportavam geradores, comida, bebida e outros itens de ajuda humanitária, mas autoridades ocidentais suspeitavam tratar-se de reforços para uma intervenção militar.

O comboio aguardou durante uma semana a autorização ucraniana para cruzar a fronteira, mas acabou entrando sem qualquer controle aduaneiro e sem o acompanhamento da Cruz Vermelha, que também tentou negociar a passagem dos veículos.

'Violação'

A Ucrânia informou na última sexta-feira que caminhões russos que, segundo a Rússia, transportam bens de consumo de ajuda humanitária, entraram em território controlado pelos rebeldes ucranianos sem serem acompanhados pela Cruz Vermelha (CV). Segundo governates, há risto dos veículos não inspecionados conterem armamentos pesados. 

Fontes da CV afirmaram que apenas o conteúdo de 34 caminhões foi verificado na noite de quinta por guardas de fronteira e funcionários da alfândega da Ucrânia e da Rússia, com representantes da entidade humanitária como testemunhas.

'Caminhões vazios'

Autoridades russas disseram que não era mais possível esperar diante da cada vez mais grave crise humanitária no leste ucraniano.

Repórteres da agência de notícias AP disseram ter visto que 40 dos cerca de cem caminhões que retornaram à Rússia no sábado estavam vazios, mas não se sabe ao certo se os outros também estavam nem o que teria sido descarregado em Lugansk.

Depois de quatro meses de confrontos entre separatistas pró-Rússia e forças ucranianas, mais de 2 mil pessoas já morreram, enquanto mais de 330 mil foram forçadas a abandonar as suas casas.

Os EUA também afirmaram que o deslocamento do comboio russo era uma violação da soberania ucraniana e uma escalada "perigosa" do conflito. Além disso, a Casa Branca afirmou que os russos deveriam recuar ou sofreriam um isolamento ainda maior.

Em um telefonema, o presidente Barack Obama e Merkel disseram que a situação "vem se deteriorando" desde que um avião comercial da Malásia foi derrubado em território rebelde no mês passado, matando todas as 298 pessoas a bordo.

Oficiais da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) acusam a Rússia de estar reforçando as suas tropas na fronteira e mesmo operando com artilharia dentro da Ucrânia.

No entanto, o embaixador russo no Conselho de Segurança da ONU, Vitaly Churkink, acusou os governos ocidentais de distorção da realidade. "Às vezes, tenho a impressão de estar assistindo a um filme surrealista, porque alguns integrantes do Conselho não estão preocupados com o fato de centenas estarem morrendo", disse.

Churkink afirmou que a Rússia teve de tomar providências para não desperdiçar produtos perecíveis e que espera que a Cruz Vermelha ajude a distribuí-los. "Esperamos o suficiente. Estava na hora de nos mexermos, e foi o que fizemos."

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