Por clarissa.sardenberg

Iraque - Para os alunos que voltam às aulas nesta semana em Mossul, cidade no norte do Iraque controlada pelos jihadistas desde junho, a teoria da evolução de Charles Darwin desapareceu, e o país em que vivem já não é a República do Iraque, mas o Estado Islâmico (EI). Estas são algumas das normas impostas pela organização radical e divulgadas no início do novo ano letivo. Os programas educacionais que "infringem a lei islâmica ('sharia')" foram cancelados.

As disposições estão incluídas em dois éditos que anunciam a "boa nova do príncipe dos verdadeiros crentes (o líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi) de criar o Escritório de Educação para pôr fim a ignorância, promover as ciências da religião e rejeitar os programas de educação corruptos".

Um dos documentos proíbe as disciplinas que infringem a lei islâmica, como arte e música, história e geografia, literatura e o ensino da religião cristã.

Nas aulas de Ciências tudo o que faz referência à teoria darwinista da evolução foi banido, já que "toda a criação se deve a Deus, o Altíssimo". A nova legislação também ordenou apagar o nome de República do Iraque de todos os textos educativos e substitui-lo pelo do Estado Islâmico, além de eliminar todas as fotografias que infrinjam a "sharia". Entre outras regras, os jihadistas ordenaram que os professores incutam nos alunos a pertinência ao islã e estabeleceu a segregação dos estudantes por gênero. No segundo comunicado, o Departamento de Educação do EI enfatizou que hoje é o primeiro dia de aula e que todos os professores deverão cumprir as normas. Quem não fizer será punido.

Um responsável educacional na província de Ninawa (cuja capital é Mossul) explicou que os jihadistas tomaram o controle do sistema escolar e que substituíram a um grande número de professores e funcionários porque muitos deles fugiram da cidade. A fonte, que pediu o anonimato, revelou que o EI prendeu professores que discordaram de responsáveis da organização extremista sobre os programas educacionais alterados ou cancelados. Até agora não se sabe o paradeiro dessas pessoas.

Em declarações, o governador de Ninawa, Azil al Nuyaifi, antecipou que as medidas impostas pelos jihadistas no sistema educacional não terão nenhum valor e não serão levadas em conta. "Todos os serviços oferecidos os moradores de Mossul são emprestados pelo Estado iraquiano e suas instituições, enquanto a única coisa que o EI dá são assassinatos, saques e execuções de civis pelos motivos mais banais", indicou o governador.

Muitos moradores de Mossul reagiram indignados à mudança dos programas educativos, cancelados e alterados de um dia para outro. Uma mulher da região, que se identificou como Una Zahra, disse que estava muito zangada e que não permitirá que seus filhos vão a escola este ano por causa da "ingenuidade" de que governa a cidade. "Meus filhos foram criados com programas científicos, que não podem ser mudados com essa facilidade, porque afetará de maneira negativa sua formação", explicou a mulher.

O supervisor educativo Jassim al Hayali denunciou que o que acontece em Mossul é uma "farsa indescritível, pela manipulação que um grupo de assassinos realiza no sistema de ensino". "O que os assassinos determinaram é impossível de aplicar por várias razões: a maioria dos alunos foi educada graças a programas excelentes e trocá-los de maneira repentina afetará em alto grau o pensamento dos estudantes", advertiu.

Hayali pediu que todos os funcionários resistam a se submeter ou a aplicar as normas impostas pelo Escritório de Educação do EI, porque elas "não guardam qualquer relação com a ciência e a docência". Para ele, "o que os jihadistas presumem sobre os atuais programas infringirem a 'sharia' é incorreto, pois a maioria inclui implicitamente material extraído das doutrinas islâmicas".

O EI tomou o controle em 9 de junho de todas as instituições estatais de Mossul, onde prendeu e substituiu a maioria dos dirigentes e funcionários e os substituiu por pessoas ligadas a sua causa.

Você pode gostar