Por leonardo.rocha
Construção custou 50 milhões de dólares na SíriaReprodução Facebook

Síria - Mesmo para alguns dos maiores defensores do regime sírio, o lançamento de um poderoso shopping center parece ter ido longe demais. As informações são do The National.

Com grande parte do país devastado pelos combates e centenas morrendo a cada semana, o projeto de 50 milhões de dólares, cerca de 122 milhões de reais, no reduto pró-regime de Tartus provocaram raras críticas partidárias ao presidente Bashar al- Assad.

As obras seguem uma série de manifestações públicas incomuns de frustração de adeptos do regime após a perda de centenas de soldados para o Estado Islâmico em ataque com bomba que deixou cerca de 50 crianças mortas em Homs.

O shopping foi inaugurado pelo primeiro-ministro sírio, Wael Al Halaqi, em 9 de outubro e inclui "sete restaurantes, uma sala de jogos para crianças e lojas", revelou comunicado onde o governo se vangloria, anunciando "projetos turísticos" adicionais na cidade. O projeto é um investimento privado, mas tem claro apoio do regime e causou indignação.

"Dez bilhões de libras sírias gastas em um shopping enquanto os soldados feridos estão pagando por cirurgia de seus próprios bolsos e comendo apenas batatas e pão", disse um simpatizante do regime no Twitter. "6% da população de Tartus não serão capazes de fazer compras no shopping", disse outro pelo Facebook.

Mesmo para alguém que pode se beneficiar do projeto, como um funcionário do setor de turismo em Tartus, a obra causou algum ressentimento. Os projetos "ignoram os sentimentos das famílias de muitos soldados da província que já morreram na guerra", disse funcionário.

Tartus foi poupada do pior da guerra civil que já deixou mais de 180 mil mortos e forçou mais de 9 milhões de sírios a saírem de suas casas. Junto a outra província costeira, Latakia, região é reduto de Assad e da seita minoritária alauita a qual ele pertence.

Enquanto a cidade ainda não foi devastada pelos combates, mais soldados de Tartus foram mortos no conflito do que de qualquer outra província síria. O regime considerou por muito tempo suas fortalezas costeiras como reservatórios para recrutamento de soldados e para milícias pró-regime.

"O shopping abriu. As famílias dos mártires podem tirar fotos e os feridos podem se beneficiar com vendas de próteses. Viva a nação!", disse um discurso sarcástico em uma página no Facebook chamada "A Província se esqueceu de Tartus".

O site Síria Report, que incide sobre a economia da Síria, disse que houve um "clamor de adeptos do regime" após o anúncio.

"Apesar do Tartus Mall ser um investimento privado, empreendimentos dessa escala na Síria não podem ter lugar sem apoio de um funcionário do regime e, portanto, são percebidos como sendo uma fonte de enriquecimento para autoridades", disse o site.

Jihad Yazigi, diretor do Syria Report, disse que a decisão do governo de avançar com os projetos era parte de uma abordagem de longo prazo.

"O regime está tentando mostrar através desses projetos que 'está tudo bem', que a situação está sob controle", disse Yazigi. "Essa tem sido a política do governo há três anos e meio, já que a guerra começou em março de 2011", ponderou ele.

Yazigi disse que Tartus se tornou um alvo para os investidores porque a sua relativa calma tem atraído um fluxo de deslocados sírios das províncias devastadas pela guerra, como Aleppo e Idlib.

Mas o que os recém-chegados e moradores da cidade parecem querer mesmo é o fim do derramamento de sangue, e Yazigi disse que apoiadores de Assad estão cada vez mais irritados com as decisões do governo após a queda de várias bases militares por causa dos combatentes do EI. Em agosto, o grupo sunita ocupou a última base do exército na província de Raqqa matando cerca de 200 soldados.

Fotos terríveis de execuções em massa e decapitações de soldados na base Tabqa circularam pelo país, levantando a ira dos partidários do governo que sentiram que o avanço dos militantes poderia ter sido previsto e, talvez, evitado.

Simpáticos ao regime mostraram sua ira nas redes sociais e alguns até tentaram organizar manifestações contra o ministro da Defesa, o general Fahd Al Freij. Em setembro, cinco ativistas foram presos.

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