Por bferreira

Rio - Pela primeira vez na rede pública de Saúde do Brasil, um hospital realizou uma cirurgia de cérebro com o paciente acordado durante todo o processo. A operação ocorreu no Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio, dia 26 do mês passado. Foram retirados dois tumores do homem operado, com o uso de um neuronavegador — equipamento que serve como um GPS para os médicos encontrarem a região afetada pelo câncer.

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Responsável pelo procedimento, o neurocirurgião Ruy Monteiro explica que a técnica é um grande avanço para cirurgias em áreas do cérebro que possam afetar funções de linguagem ou motoras, caso da operação do mês passado. “Mantemos contato constante com o paciente, pois se ele apresentar mudança na fala, alteramos a posição de ação sobre o tumor para evitar que a pessoa fique com sequelas”, afirma o especialista.

Além de diminuir os riscos de más consequências, o fato de o paciente estar acordado também reduz o tempo necessário para recuperação. Enquanto cirurgias convencionais podem demandar internações de até três semanas, o paciente recebeu alta apenas dois dias depois do procedimento inovador. “A técnica é muito melhor. Termina o curativo e o paciente já estava conversando com a equipe. Fez exames para confirmar os resultados e foi liberado”, diz.

Na cirurgia, que demorou oito horas e contou com a presença de três cirurgiões e dois anestesistas, foi preciso que o crânio do paciente fosse serrado para a retirada das metástases. “As lesões eram profundas, o que exigiu a craniotomia. Apesar de o paciente não sentir nada, o barulho da serra assusta. Pedimos que escolhesse uma música para ouvir durante o processo”, conta Ruy.

O coordenador do setor de neurocirurgia do Miguel Couto também aponta que pacientes que podem sofrer complicações decorrentes da anestesia são indicados para passar pela cirurgia enquanto estão acordados.

Máquina funciona como GPS cerebral

Além de o paciente estar acordado, a cirurgia realizada no final de setembro também contou com outra novidade do Sistema Único de Saúde (SUS): o neuronavegador. Comprado em junho do ano passado pela Secretaria Municipal de Saúde, o aparelho consegue apontar com precisão onde estão localizadas as lesões cerebrais a serem corrigidas durante a cirurgia.

“É como um GPS de carro em que os mapas são as tomografias feitas pelo paciente. Através de coordenadas eletromagnéticas, o aparelho vai guiando as ações do cirurgião”, comenta Ruy Monteiro, que comandou o procedimento inédito.

Atualmente, a rede municipal de saúde dispõe de dois neuronavegadores para neurocirurgias. Cada um deles representou investimento da ordem de R$ 1,9 milhão.

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