Rio - Problemas na pele podem ser a reação a aspectos emocionais, como ansiedade e estresse. Para tratar o paciente de forma integral e resolver todos os males, o Hospital Federal de Ipanema oferece um serviço com dermatologistas, psicólogos e psiquiatras. O atendimento acontece às terças-feiras, mas é necessário encaminhamento por alguma outra unidade de saúde.
O foco do ambulatório é cuidar de quem sofre com as psicodermatoses — doenças de pele que têm origem no estado emocional. De 30% a 40% dos pacientes dermatológicos apresentam também questões psicológicas.
Uma das profissionais que atua no Hospital de Ipanema, Márcia Senra, coordenadora do departamento de psicodermatologia da Sociedade de Dermatologia do Rio, explica que ansiedade, depressão, dificuldade de lidar com a raiva e baixa autoestima podem ser ‘gatilhos’ para males como acne, vitiligo, psoríase, dermatite atópica (inflamação na pele), calvície, rosácea e herpes.
“Questões emocionais afetam a imunidade, o que traz consequências na pele, pois ela tem substâncias químicas que ‘respondem’ ao estado psíquico da pessoa”, explica.
Outros aspectos tratados no hospital federal da Zona Sul são a automutilação — quando a pessoa se corta — e tricotilomania, que é arrancar o próprio cabelo. Nesse caso, transtornos do impulso e depressão são a causa das atitudes. “A pessoa chega com a queixa na pele e muitas vezes não tem consciência da causa do problema”.
Para definir se as manifestações na derme têm relação com o emocional do paciente, Márcia — que tem pós graduação em psicoterapia — faz uma ‘leitura corporal’ do paciente e analisa velocidade da fala, contato visual e forma de se sentar. Se houver relação com o emocional, a pessoa é encaminhada a tratamento com psicólogo ou psiquiatra. “O tratamento precisa ser em conjunto”, afirma.
Livro explica o que é a automutilação
Lançado em setembro, o livro ‘Willow’ (Editora Leya) trata da automutilação ao contar a história da personagem título. Ao perder o controle do carro, a jovem se envolve num acidente que mata seus pais. O trauma e o sentimento de culpa a transformam em uma pessoa negativa, paranoica e destrutiva. E o pior: sempre que uma memória ressurge, ela se corta. A dor física alivia instantaneamente a dor emocional, e Willow fica viciada em suas lâminas. Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria, Fátima Vasconcellos cita que pessoas com este comportamento sofrem com angústia e dificuldade de expressar os sentimentos. “Não é uma autopunição. Por incrível que pareça, se cortar faz a pessoa se sentir viva”, diz, acrescentando que o tratamento pode ser feito com psicoterapia e remédios.