Por tamara.coimbra

EUA - Brittany Maynard, a jovem de 29 anos que sofria de um agressivo tipo de câncer no cérebro, e que comoveu os Estados Unidos ao anunciar que marcara seu suicídio assistido para 1º de novembro, morreu, informou neste domingo a ONG "Compassion & Choices".

"Com tristeza anunciamos a morte de uma mulher querida e maravilhosa, Brittany Maynard. Ela morreu em paz, em sua cama, rodeada por sua família e entes queridos", disse a organização, que se dedica a assessorar doentes terminais que desejam uma morte digna.

Brittany Maynard%2C que tem um câncer no cérebro%2C decidiu se mudar para Oregon e cometer suicídio assisitidoReprodução Youtube

"Compassion & Choices" não detalhou a data da morte de Brittany, que tinha marcado seu suicídio assistido para 1º de novembro, apesar de ter na última quinta-feira adiado sua decisão para poder passar mais tempo com os seus familiares.

Último desejo

Ainda na última quinta-feira, Brittany divulgou em seu blog que havia concluído o último item de uma lista de desejos que montou quando decidiu a data de sua morte. Acompanhada de seus pais e seu marido, Brittany visitou o Grand Cânion. "Tive a oportunidade de desfrutar meu tempo com as coisas que mais amo na vida: minha família e a natureza", afirmou a jovem na Internet. A experiência, no entanto, não foi totalmente positiva porque, como ela disse, "é impossível esquecer do meu câncer".

"As fortes dores na cabeça e no meu pescoço estão sempre por perto. E, infelizmente, tive a pior convulsão até agora. Fiquei sem falar por tempo, até retomar a consciência." No mesmo texto, a americana diz que seu sonho é que todos que sofrem de doenças terminais possam morrer da maneira que desejarem.

Permissão para morrer

A história de Brittany vem tendo uma grande repercussão nos Estados Unidos, onde ganhou fôlego o debate sobre a eutanásia. A jovem e seu marido se mudaram da Califórnia para o Estado do Oregon — um entre cinco Estados americanos onde o suicídio com assistência de médicos é permitido.

Após se estabelecer como residente no local, ela teve de provar que tem menos de seis meses de vida. Após isto, a paciente obteve uma receita médica para as drogas que usaria para morrer.

Em seu artigo, ela escreveu que pretende tomá-las no dia 1º de novembro, dois dias após o aniversário de seu marido. Maynard compartilhou sua experiência com a entidade sem fins lucrativos Compassion & Choices, que faz pressão por uma legislação que legalize a eutanásia.

Ela também lançou uma campanha na mídia onde explica a situação junto com sua família. A campanha inclui um vídeo publicado no YouTube. Em um determinado momento do vídeo, Maynard é vista abrindo a bolsa e retirando dois vidros que, presume-se, conteriam medicamentos para dar fim à sua vida.

"Quando eu precisar, sei que estão aqui", ela diz para a câmera.

O vídeo foi visto mais de 5,6 milhões de vezes.

Ela diz que se sente aliviada sabendo que tem a opção de morrer "nos próprios termos" e quer que outros na mesma situação tenham acesso a esta alternativa. A campanha de Maynard reacende a polêmica sobre a moralidade do suicídio auxiliado por médicos e a perspectiva de que haja mais legalizações da prática nos Estados Unidos.

"Talvez Maynard não leve seu plano a cabo no dia 1º de novembro. Estatisticamente, a maioria dos que obtêm medicamentos para dar fim à própria vida não os utiliza, embora quase todos relatem sentir-se tranquilos sabendo que têm os comprimidos em mãos", escreve Meghan Dawn no jornal Los Angeles Times.

"Mas como ela compartilhou sua decisão com o mundo, seu legado será uma contribuição crucial para discussão a respeito de como vivemos e morremos".

O especialista em bioética Arthur Caplan diz que a história de Maynard tem o potencial de mudar a forma como muitas pessoas, particularmente os mais jovens, vêem a questão. "Uma geração inteira está agora olhando para Brittany e se perguntando por que seus Estados não permitem que médicos receitem doses letais de drogas para quem está morrendo", Caplan escreveu para a BBC News.

"Brittany está tendo e terá um grande impacto sobre o movimento para que medidas sejam apresentadas a eleitores e legisladores". Capla acredita que opiniões em torno da questão do suicídio assistido podem mudar rapidamente, da mesma forma como mudaram em relação ao casamento entre homossexuais.

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