Por tamara.coimbra

EUA - O juri de Saint Louis não irá indiciar o policial Darren Wilson, 28, que matou com seis tiros o jovem negro Michael Brown, 18, diante de uma loja de conveniência em Ferguson, Estado do Missouri, na tarde de 9 de agosto. Brown estava desarmado. O anúncio foi feito na noite desta segunda-feira — início da madrugada desta terça no Brasil.

Em entrevista coletiva o promotor da comarca Robert McCulloch afirmou que "Darren Wilson não será acusado em conexão à morte de Michael Brown ocorrida em 9 de agosto em Ferguson". De acordo com McCulloch, o júri fez uma investigação exaustiva e os jurados não encontraram motivos para indiciar o policial. O juri, na vizinha (e mais rica) cidade de Clayton, de população de maioria branca, foi formado por nove brancos e três negros.

População de Missouri faz novo protesto após decisão da JustiçaReuters

A família de Michael Brown emitiu um comunicado dizendo-se profundamente decepcionada com a decisão. A morte se tornou o caso mais famoso entre várias outras mortes de jovens negros neste ano causadas por policiais brancos.

Revolta da população

Uma multidão se reuniu em torno de um carro de som que transmitia a decisão de McCulloch. A mãe de Brown, Lesley McSpadden, que estava sentada em cima do carro, começou a chorar e começou a gritar, antes de ser levada por amigos.

Os manifestantes foram em direção a barricada feita pela polícia da tropa de choque, forçando e atirando objetos nos policiais, incluindo um megafone. A tropa não reagiu e se manteve firme no local.

A Justiça levou seis horas para fazer público o veredito. Especula-se que a demora foi provocada por receios de uma reação violenta à decisão, esperando a noite chegar para que escolas e estabelecimentos comerciais estivessem já fechados e a maioria da população em casa.

Os protestos após a decisão do júri se multiplicaram no Estado americano de Missouri. Manifestantes queimaram veículos e edifícios e saquearam lojas. A polícia usou gás lacrimogêneo para tentar conter os manifestantes.

O presidente americano, Barack Obama, afirmou em um pronunciamento nesta segunda-feira que a raiva da população com a decisão judicial é "compreensível", mas pediu que os protestos fossem realizados de maneira pacífica. Também solicitou à polícia que lide com as manifestações com "cuidado e moderação".

Mesmo assim, diversos estabelecimentos comerciais foram saqueados e ao menos uma loja de departamentos, um restaurante, uma farmácia e um carro da polícia foram incendiados.

Manifestante coloca fogo em uma loja em Ferguson%2C no Estado do MissouriReuters

Tropas de choque equipadas com blindados para controle de multidões lançaram jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra a multidão. Os manifestantes arremessaram pedras e garrafas em direção às forças policiais. Os conflitos se estenderam pela madrugada.

Segundo a polícia local, as manifestações iniciadas na noite desta segunda-feira são "muito piores que a pior noite que tivemos em agosto". Mais de 150 disparos de armas de fogo teriam sido registrados.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos está conduzindo uma investigação separada sobre possíveis violações de direitos civis que poderiam resultar em acusações federais. O departamento também lançou fará uma pesquisa ampla no Departamento de Polícia de Ferguson, procurando padrões de discriminação.

O caso

Darren Wilson jamais falou publicamente desde a morte de Brown, mas testemunhou para os jurados.

Logo após a morte de Brown, a polícia mandou tanques, blindados e centenas de policiais usando uniformes camuflados para conter protestos seguidos de saques e vandalismo em Ferguson, o que também provocou um debate nacional sobre a excessiva militarização da polícia americana. Para analistas, a repressão aumentou a violência e reforçou o sentimento de discriminação daquela comunidade.

A conduta das autoridades e da polícia de Ferguson foi criticada desde o início do caso. O corpo de Brown ficou quatro horas e meia estendido no chão diante de uma loja de conveniência após receber os seis tiros; a polícia demorou vários dias para divulgar a identidade do policial e o fez no mesmo dia em que divulgou um vídeo de Brown furtando a loja de conveniência, mas sem maiores explicações.

Para muitos, a polícia estava querendo culpar a vítima. O presidente Barack Obama então mandou seu ministro da Justiça, Eric Holder, a Ferguson para se encontrar com os pais do jovem.

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