Por bferreira
Cuba - Em 23 de junho de 2001, Fidel Castro proferiu frase que se transformou numa espécie de ‘mantra’ em Cuba: “Só lhes digo uma coisa, eles voltarão”. O líder da Revolução Cubana se referia a Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, Ramón Labañino e René González, agentes presos nos Estados Unidos desde 1998, acusados de espionagem. Com o histórico restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países, anunciado quarta-feira, os cinco se reuniram em Havana, cumprindo, após 13 anos, a ‘profecia’ do ex-presidente.
A volta para casa de Antonio, Gerardo e Ramón — os outros dois tinham regressado em 2013 após cumprirem pena —, ainda na noite de quarta, foi emocionante. O trio, que fora condenado à prisão perpétua, reencontrou-se com as famílias após 16 anos. Nas ruas, foram saudados como heróis. Antes dos abraços em mães, mulheres e filhos, estiveram com o presidente Raúl Castro. “Estou orgulhoso de vocês pela resistência, pelo exemplo que isso representa para o povo”, disse Raúl.
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Líder do grupo antes da prisão, Gerardo garantiu que eles estão às ordens e mandou recado a Fidel: “Diga ao comandante que estamos aqui para seguir cumprindo com nossas obrigações”.
Eles foram soltos em troca da libertação do americano Alan Gross, que cumpria pena de 15 anos em Cuba, também por espionagem. Um dia após a retomada das relações, porta-voz da Casa Branca não negou a possibilidade de Raúl visitar Washington.
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Na manchete da edição de ontem do ‘Granma’, veículo oficial do Partido Comunista de Cuba, havia apenas uma palavra: “Voltaram!”. Somente um movimento histórico poderia garantir a liberdade dos chamados ‘Cinco Cubanos’. Foi o que fizeram Raúl Castro e Barack Obama, presidente americano, em conversas intermediadas pelo Papa Francisco. Ao reativarem relações rompidas há 53 anos, alteraram o tempo verbal da velha frase de Fidel: eles voltaram.
Processo será bem longo
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Pelas ruas de várias cidades cubanas, o povo comemorou. Alguns cubanos, porém, não gostaram, como a blogueira anticastrista Yoani Sánchez: “O castrismo venceu. No jogo da política, os totalitarismos sempre conseguem se impor sobre as democracias”, escreveu.
Mas para que vire verdade a retomada das relações diplomáticas, será preciso longo processo. Só o Congresso dos EUA pode regulamentar a abertura de embaixada americana em Cuba e também revogar lei que impõe sanções contra empresas americanas que fazem negócios com Cuba. A aprovação das medidas pode não ser tão fácil, já que parlamentares republicanos assumirão a maioria no Congresso.
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Espiões infiltrados em Miami
A história do quinteto, contada pelo escritor Fernando Morais no livro ‘Os últimos soldados da Guerra Fria’, remonta ao início dos anos 90. Segundo Cuba, os agentes foram enviados aos Estados Unidos para se infiltrar e sabotar planos de grupos anticastristas radicados em Miami. Descobertos, foram presos por Washington sob acusação de repassar informações confidenciais americanas para Cuba.
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Em 2001, os cinco foram considerados culpados pela Suprema Corte. Antonio, Gerardo e Ramón, condenados à prisão perpétua. Fernando recebeu pena de 19 anos e René, de 15. Desde então, Havana iniciou campanha humanitária pela liberação do grupo.
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