Amigo de brasileiro fuzilado na Indonésia lamenta: 'Salvou a minha vida'
Presidenta Dilma Rousseff reagiu indignada à morte de carioca de Ipanema
Por felipe.martins, felipe.martins
Indonésia - Amigo de longa data de Marco Archer, o fotógrafo Mauro Nascimento não tinha palavras para descrever a sua dor pela morte do instrutor de voo livre. Consciente da gravidade do crime cometido pelo carioca, o amigo não escondia, por outro lado, sua revolta pela pena, segundo ele, exagerada imposta ao brasileiro.
O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi executado ontem pela polícia da Indonésia. A informação foi confirmada à 0h30 local (16h30 de Brasília) pelo porta-voz da Procuradoria-Geral do país, Tony Spontana. Preso desde 2004 por tráfico de drogas, o carioca havia sido condenado à morte no mesmo ano. Além de Marco, primeiro brasileiro a ser executado no exterior, mais cinco pessoas também foram mortas no país asiático ontem pelo mesmo crime. O corpo de Archer será cremado e transportado para o Brasil nos próximos dias. Outro brasileiro, Rodrigo Gularte, 42, também está no corredor da morte na Indonésia por tráfico.
Sempre referindo-se a Archer como Curuma, alusão a Curumim, seu apelido, Mauro relembrou o caso que lhe deixava mais abatido por não poder ajudar o amigo. Há cerca de quatro décadas, quando a dupla praticava voo livre, foi Archer quem impediu o fotógrafo de realizar um salto com os equipamentos de segurança mal instalados, o que poderia ter lhe custado a vida.
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“Ele salvou a minha vida naquela ocasião e agora eu não pude retribuir esse gesto.Às vezes, tinha vontade de entrar na prisão e tirar o Marco à força de lá”, contou ele.
Apesar de muito abalado com a execução, Nascimento também acreditava que o desfecho da história, que se arrastava por 11 anos, pode ter tido seu lado positivo. “Imagine como deve ter sido sofrido todo esse tempo esperando a morte. Será que não foi melhor acabar de uma vez com essa dor?”, especula o fotógrafo.
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Para ele, a postura correta que as autoridades da Indonésia deveriam ter tido era extraditar Archer para o Brasil. “Ele cometeu um erro gravíssimo, por olho grande. Mas esta lei é muito exagerada. Deveriam ter mandado ele de volta para o país”, argumenta.
Dilma se indigna com execução
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Após ter passado os últimos dias negociando a clemência ao brasileiro e ter tido todos os seus pedidos negados pelo presidente da Indonésia, Joko Widodo, a presidenta Dilma Rousseff emitiu nota em que se disse “consternada e indignada” pela morte do instrutor de voo livre apesar de não “desconhecer a gravidade dos crimes que levaram à condenação de Archer”.
Em seu comunicado, Dilma também determinou que o embaixador brasileiro na Indonésia, Paulo Alberto da Silveira Soares, retorne ao país para consultas. A ação demonstra a reprovação do Brasil com a medida do governo indonésio. “O recurso à pena de morte, que a sociedade mundial crescentemente condena afeta gravemente as relações entre nossos países”, afirmou a chefe de estado. No ano de 2013, a Indonésia foi o 32º maior parceiro comercial do Brasil.
A execução de Archer ocorreu às 15h31 de Brasília, na ilha de Nusa Kambangan. O carioca, junto com outros quatro condenados, foi levado para o local, que abriga uma prisão de segurança máxima, na última quarta-feira e passou a receber apoio psicológico e religioso antes do fuzilamento.
Em entrevista ao jornal local ‘Jakarta Post’, ontem, o clérigo Hasan Makarim, que esteve com o brasileiro, garantiu que ele e os demais condenados demonstravam aceitar seu destino. “Nenhum deles protestou contra a execução. Todos disseram que vão acatar as leis do país”, disse ele. Tia de Marco, Maria de Lourdes Archer Pinto permaneceu ao lado do brasileiro até horas antes da execução. Ela, que visitava o sobrinho regularmente, levou cartas de familiares e bacalhau, último pedido do condenado. Também estavam presentes no encontro o advogado de Archer e funcionários da embaixada brasileira.
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Segundo informações do ‘Jakarta Post’, parentes e visitantes foram retirados da ilha por volta das 21h de sexta-feira (13h no Brasil). Ao todo, 48 homens das forças especiais da polícia indonésia participaram dos fuzilamentos de Marco Archer, Daniel Enemuo, da Nigéria, Ang Kiem Soei, da Holanda, Rani Andriani, da Indonésia, e Namaona Denis, do Malawi. O vietnamita Tran Thi Bich Hanh foi executado em um outro local.
Marco Archer foi preso em 2004 ao tentar entrar no país com 13,4 kg de cocaína escondidos em tubos de uma asa-delta. A Indonésia é um dos países com legislação anti-drogas mais severa do mundo. No poder desde outubro, o presidente Widodo foi eleito após campanha em que prometeu tolerância zero com traficantes.
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O último depoimento
“Hoje é o dia 15 de janeiro de 2015, meu nome volta a circular nas notícias, na televisão e no jornal, meu pedido de clemência foi negado, meu segundo pedido, e eu me encontro no corredor da morte e meu nome está na lista desses seis primeiros que serão executados. É um momento muito difícil para mim, estou sofrendo. Eu sei que errei. Enfim, eu peço pelas autoridades do Brasil que zelem pelo meu caso. Estou ciente que cometi um erro gravíssimo, mas eu mereço mais uma chance, porque todo mundo erra.
Meu sonho é sair daqui e voltar para o Brasil e expor meu problema para esses jovens que estão pensando em se envolver com drogas, que realmente se teve algum problema com a família, não vai fazer esse erro que cometi, porque aqui as coisas vão ficar muito piores. É o que eu quero, voltar para o meu país, pedir perdão a toda minha nação e mostrar para esses jovens que a droga só leva a dois caminhos: ou a prisão ou a morte. Na minha cabeça passou que primeiro eles colocam uma venda no seu olho e você é executado a tiros. Meu Deus do céu, não dá nem para explicar. Mas eu sou uma pessoa esperançosa e acredito mais uma vez que minha estrela vai brilhar. Vou lutar até o fim porque realmente minha vida não pode acabar dessa maneira. De uma maneira dramática, eu sendo fuzilado aqui na Indonésia.”
Paranaense será o próximo
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Além de Marco Archer, um outro brasileiro integra a lista de condenados à morte na Indonésia. O paranaense Rodrigo Gularte, de 42 anos, foi preso um ano depois de seu compatriota também por tentar entrar no país asiático com drogas, desta vez escondidas em pranchas de surfe. A data da execução de
Rodrigo ainda não foi marcada, mas a expectativa é que ela ocorra no mês de fevereiro. Há anos batalhando por clemência, familiares e amigos do surfista intensificaram as ações nas últimas semanas após o governo da Indonésia dar mostras de que pretende executar as 64 pessoas no corredor da morte. O principal argumento da defesa de Rodrigo é de que o brasileiro sofra com problemas mentais e não deveria sequer ser mantido em uma prisão, mas levado para um hospital psiquiátrico. Apesar das tentativas, o pedido de clemência feito por Dilma foi negado, assim como aconteceu com Archer.
Morador de Florianópolis, Santa Catarina, Rodrigo foi preso em 2004 quando 6kg de cocaína foram descobertos dentro de oito pranchas de surfe que ele transportava. Acompanhado de dois amigos, o paranaense assumiu a culpa pelo crime sozinho. Condenado à morte desde 2005, o brasileiro tem um filho de 21 anos que sofre de autismo e pouco sabe sobre o destino que seu pai pode ter em algumas semanas.