Por thiago.antunes
Rio - Fazer sexo já não é mais prioridade para muita gente. E a nova geração de ‘abstinentes’ trocaria as relações por um aparelho: o celular. Pesquisa com 7,5 mil voluntários, incluindo brasileiros, revelou que quase 40% preferem ficar sem transar por um ano a abandonar o telefone pelo mesmo tempo.
O levantamento, da Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a empresa de tecnologia Qualcomm, entrevistou pessoas em países como Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul, Brasil, China e Índia. Os participantes foram questionados sobre o que preferiam: ficar um ano sem um determinado aspecto do cotidiano ou sem o celular durante o mesmo período?
Atividades que as pessoas largariam por um ano para não ficar sem celular pelo mesmo períodoArte%3A O Dia

Em relação ao ato sexual, menos brasileiros que a média total da pesquisa toparam a ‘abstinência’: 25%. Americanos e alemães também relataram propensão à troca (33%) um pouco menor. Por outro lado, 66% dos coreanos abririam mão do sexo.

Mas a atividade mais ‘descartável’ em prol do aparelho foi jantar fora, com índice de 64%. Em segundo lugar, vieram renunciar a um dia de folga e ter um animal de estimação (51%). Os chineses mostraram mais disposição para reduzir o descanso semanal (55%). As entrevistas foram feitas entre setembro e novembro e os dados, apresentados esta semana no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça).

O DIA foi às ruas da Lapa, ontem, para saber de quais itens da pesquisa os cariocas abririam mão para não ficar sem o celular durante um ano. De seis entrevistados, um deixaria de lado as relações sexuais. “Acho que o sexo não é tão importante para a vida. Mas para não abandonar as outras situações, a gente acaba acostumando a viver sem o aparelho”, disse o aposentado Arnoldo Viellena, de 69 anos.

As amigas Janaira (E) e Carmem gostam de celular%2C mas não abririam mão de sexo. Da lista da pesquisa%2C elas eliminariam jantar em restaurantesFernando Souza / Agência O Dia

Já as amigas estudantes Carmem Sousa, 23, e Janaira Araújo, 18, deixariam apenas de jantar fora e de folgar. “Acho que abrir mão de sexo seria loucura. Sou viciada em celular, mas há certas coisas que não podemos deixar de fazer”, destacou Carmem. Já para a estudante Ana Lourenço, 28, o pior não é abandonar o aparelho, mas sim ficar sem internet. “Já viajei e fiquei um mês sem o celular. Fiquei ótima. Só não conseguiria ficar sem a internet”, ressaltou.

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O assistente administrativo Gabriel de Souza, 28, não considera o celular ‘digno’ de ocupar o lugar de nenhuma das atividades listadas na pesquisa. Ele acrescenta ainda que o dispositivo tornou as relações mais artificiais. “As pessoas esquecem das verdadeiras amizades”, analisou. Assim como Gabriel, o professor de inglês Nelson Luiz Almeida, 29, não é viciado em celular e só o utiliza no horário de trabalho. “Já fiquei dois anos sem o telefone. Consigo ir à academia e passear sem utilizá-lo”.
Estabelecer limites é importante
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Para o psiquiatra André Brasil, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o ‘sinal de alerta’ para a dependência tecnológica deve acender entre o grupo que aceitou viver sem sexo e outras atividades importantes. Além da distância dos aplicativos e das redes sociais, o medo de ficar sem informações importantes é outro aspecto que ‘prende’ as pessoas aos telefones, segundo o especialista.
Arnoldo prefere celular do que sexo%3B Nelson só o usa para trabalho%3B Gabriel utiliza o aparelho com moderação e Ana acha internet mais útil Fernando Souza / Agência O Dia

“Trocar atividades prazerosas e necessárias pelo celular pode ser doença”, aponta. Segundo ele, são mais suscetíveis ao vício pessoas tímidas, retraídas e com traços de ansiedade e depressão. Para elas, diz André, é mais fácil conviver no meio virtual do que no real e o aparelho funciona como fuga e ‘remédio’ para a solidão.

Segundo ele, a redução do uso dos dispositivos eletrônicos deve ser gradativa. Por exemplo, a pessoa pode trocar algumas horas de uso dos eletrônicos por atividades ‘offline’. Mas a dica de reduzir o uso vale para todos, viciados ou não. “É importante estabelecer um limite. O celular não pode atrapalhar a rotina. Se prejudicar, é melhor não usar”.
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Reportagem de Beatriz Salomão, Gabriela Mattos e Fernando Souza