Inglaterra - O motorista do ônibus em que ocorreu um estupro coletivo que levou à morte uma jovem em dezembro de 2012, na Índia, deu declarações chocantes para o documentário “India's Daughter”, de Leslee Udwin. Segundo Mukesh Singh, a culpa foi da vítima. "Uma garota decente não estaria perambulando por aí às nove da noite. Uma garota é muito mais responsável por um estupro do que um garoto", disse.
O homem ainda ameaçou outras mulheres dizendo que agora as coisas serão mais difíceis para elas. Parte da produção que será lançada no próximo dia 8 (Dia Internacional da Mulher) foi exibida pela BBC britânica nesta semana.
"Quando está sendo estuprada, ela não deve lutar. Ela deve apenas ficar em silêncio e permitir o estupro. Então, eles teriam deixado ela depois (do estupro) e apenas teriam espancado o menino", afirmou.
Segundo o estuprador, mulheres devem permanecer fazendo serviço doméstico e não ter a liberdade de ir e vir usando "roupas erradas". Ele ainda foi além ao estipular uma porcentagem para as "garotas boas", 20 %. Singh afirmou que os homens tinham o direito de "ensinar uma lição" para a jovem por causa de seu comportamento.
Quatro homens foram condenados à morte pelo estupro e assassinato de Jyoti Singh, de 23 anos. Na ocasião, ela entrou em um ônibus de Nova Déli por volta das 20h30 na companhia de um amigo. Nele estavam seis homens e um menor de idade. O amigo da moça foi espancado e em seguida, ela estuprada repetidamente por cada um dos agressores. A jovem ainda apanhou com uma barra de ferro.
"A pena de morte vai tornar as coisas ainda mais perigosas para as garotas. Agora, quando eles estupram, eles não vão deixar a garota como nós fizemos. Eles vão matá-la. Antes, eles estuprariam e diriam: 'deixa ela, ela não vai contar para ninguém'. Agora, quando eles estuprarem, especialmente os tipos criminosos, eles vão matar a garota", disse.
"Não há lugar para a mulher"
O documentário enfatiza a desigualdade de gêneros , os crimes sexuais na Índia e a aparente falta de remorso dos condenados chocou até mesmo a diretora do filme.
Quando questionado como teve coragem de cometer um ato tão horrendo, Singh respondeu: "Ela era uma mendiga, a vida dela não tinha valor". Os homens que estupraram a jovem foram condenados à morte por enforcamento. Diversos protestos começaram ao redor do mundo e no país após a morte da jovem.
Segundo advogados consultados pela produção do filme, não é permitido que mulheres circulem nas ruas após às 19h30. Segundo eles, na cultura indiana não há lugar para a mulher.
"Se minha filha ou irmã se envolvessem com atividades antes do casamento (...), e se permitir perder o caráter ao fazer tais coisas, com certeza eu levaria esta irmã ou filha para minha fazenda e, em frente de toda minha família, despejaria gasolina nela e acenderia o fogo", declarou outro advogado, AP Singh, em uma entrevista para uma televisão local.