Por bferreira

Rio - Aos 27 anos, Marisa de Toledo sonha em sentir dor. Paulista de Angatuba, ela sofre de uma doença rara — a analgesia congênita — que a impede de perceber os sinais de alerta quando algo não vai bem com o organismo. O que para muitos parece um benefício, na verdade traz graves consequências.

Marisa com o marido e os três filhos%2C que são saudáveis. Ela mora em zona rural do interior de São PauloDivulgação

Marisa precisou amputar o dedo do pé e tem várias cicatrizes e bolhas pelo corpo, já que não percebe quando se fere. Ela também perdeu o paladar, por ter queimado a língua sucessivas vezes.

A paulista passou por uma cesariana sem anestesia e chegou a dormir durante um parto normal. Na infância, machucados típicos como cortes e fraturas não eram percebidos. “Eu fico imaginando como é a dor. Um dia queria ter dor, mas acho que nunca vou ter porque desde criança eu não tenho”, disse ela à BBC.

A insensibilidade congênita à dor, ou analgesia congênita, afeta menos de 50 pessoas em todo mundo. Uma possível causa da doença é o fato de o sinal da dor não chegar ao sistema nervoso central. O irmão dela sofre da mesma enfermidade.

“Quero sentir dor. Quando você sente dor, você corre para o médico. Quando você se corta, ou outra coisa... mas eu não sinto isso. Então (o corte) fica inflamado”, afirmou Marisa, que é casada e mãe de três filhos saudáveis.

Autor do site ‘The Facts of Painless People’ (‘Os Fatos sobre as Pessoas sem Dor’), o americano Steven Pete tem o mesmo diagnóstico e alerta que Marisa precisa ir ao médico com a maior frequência possível para saber o que acontece com o corpo. “Mas ela vive numa região onde é difícil ter o cuidado que precisa e merece”, disse Pete à BBC. Ela mora a 200 km da capital.

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