Por bferreira

Rio - Começa com a curiosidade, considerada ‘inofensiva’. Depois, as atividades do cotidiano dão lugar a sucessivos cliques e horas passadas diante da tela. Até vir o diagnóstico: vício em pornografia online. O assunto ganhou visibilidade com o caso do britânico de 23 anos Daniel Simmons, divulgado este mês. Dependente em recuperação, ele chegou a perder a capacidade de se relacionar com mulheres do mundo real.

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A perda de libido pode ser uma consequência do vício, explica Marco de Tubino Scanavino, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Algumas pessoas, diz ele, desenvolvem uma necessidade de estímulos cada vez mais excitantes. “Nesse contexto, o sexo com parceiros habituais deixa de ser estimulante”.

“Eu não conseguia ter ereções com mulheres de verdade porque eu tinha assistido muita pornografia”, revelou Daniel em entrevista à BBC. O rapaz conta que o processo até o vício — que durou seis anos — foi rápido. Aos 15, ele ganhou um laptop dos pais e, meses depois, já era um consumidor diário de sites pornográficos. Eram duas horas conectado por dia.

Sinais específicos e simples de serem identificados apontam a dependência. Segundo Scanavino, os mais comuns são: consumo exagerado de conteúdo pornográfico; dificuldade para controlar o acesso a esse tipo de site; isolamento social; e comprometimento no desenvolvimento de atividades. Já em relação às causas do problema, pesquisas sugerem que histórico de dependência na família, graves problemas familiares na infância e exposição a situações eróticas nessa fase da vida podem favorecer o mal.

“Esse tipo de vício afeta mais homens, provavelmente por razões culturais. Eles acessam a sexualidade de modo mais frequente e menos associado à afetividade”, explica o psiquiatra.

Para Fátima Vasconcellos, da Associação Brasileira de Psiquiatria, os pais precisam ficar atentos ao tempo que os filhos dedicam ao mundo virtual. Evitar sair e preferir ficar recluso no quarto ou no banheiro são sinais que devem alertar os responsáveis. “Os pais precisam ser próximos, fazer pelo menos uma refeição com os filhos. Isso ajuda os jovens a ter uma vida saudável”.

O tratamento é feito com psicoterapia e uso medicamentos. No Rio de Janeiro, a Santa Casa de Misericória oferece cuidado gratuito. Informações: 2533-0118.

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