Por daniela.lima

Rio - O conhecido ‘tapinha nas costas’ pode fazer a diferença na saúde do profissional. Pesquisa com mil brasileiros empregados mostrou que 89% sofrem de estresse provocado pela falta de reconhecimento no trabalho. Longas jornadas e problemas de relacionamento também geram esgotamento. Especialistas alertam que os aborrecimentos profissionais diários podem gerar ansiedade, depressão e até mesmo dores físicas.

Estresse é a principal consequência da falta de reconhecimento profissional Divulgação

O levantamento, do International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), foi apresentado semana passada no 15º Congresso de Estresse, em Porto Alegre. Foram entrevistados profissionais das áreas de educação, saúde e finanças, entre 25 e 60 anos, nas capitais paulista e gaúcha. O estudo é feito há 12 anos e esta foi a primeira vez que a falta de reconhecimento figurou no topo das principais causas de aborrecimento no trabalho.

Sofrer pela falta de ‘condecoração’ está longe de ser vaidade. Fatima Vasconcellos, psiquiatra e diretora médica do Hospital Geral da Santa Casa do Rio de Janeiro, explica que o reconhecimento é necessidade básica do ser humano, capaz de melhorar a autoestima. Ela lembra que empresas que adotam a meritocracia e reconhecem o empenho dos funcionários ainda são exceção.

“As pessoas investem tempo e dedicação e não são reconhecidas. No início, isso desmotiva e, a longo prazo, gera estresse, baixa autoestima e até depressão. O medo de perder o emprego pode agravar essas consequências”, aponta.

Segundo o levantamento do Isma-BR, 78% dos profissionais sofrem com a falta de tempo. Wania Márcia de Aguiar, psiquiatra e professora da Universidade Federal da Bahia, aponta que pouco tempo livre prejudica a saúde. O descanso, diz, recompõe o organismo, e uma rotina agitada gera mais estresse. “As pessoas precisam de um tempo livre, nem que seja para não fazer nada”, disse.

Wania alerta ainda que, normalmente, o estresse diário provocado pelo trabalho não é percebido. Segundo ela, os sucessivos aborrecimentos acionam mecanismos de defesa no corpo, que geram ansiedade e depressão.

A pesquisa brasileira mostrou que ansiedade, angústia, preocupação e dores físicas (na cabeça e musculares) são os efeitos mais comuns do estresse profissional. “O estresse desorganiza quimicamente o organismo. Mexe com tudo, inclusive com a parte cardíaca e muscular”, declara. 

Emprego não deve ser o centro da vida

Em época de crise econômica, abandonar o emprego não é uma opção para a maioria dos profissionais estressados. Mas com mudanças na rotina é possível manter o trabalho e ser feliz. De acordo com Wania, é fundamental compreender que o emprego não é o centro da vida. “A pessoa não deve levar trabalho para casa. Ela é paga para trabalhar as oito horas”.

Fatima acrescenta que pessoas que fazem do trabalho a razão de viver ficarão insatisfeitas e infelizes. Para ela, é importante investir tempo com família e amigos e ter alguma atividade que distraia e descanse o cérebro, como trabalhos manuais. “O<CW-19> momento econômico é muito complicado para tomar decisões precipitadas, mas muita gente pede demissão e vai trabalhar por conta própria. Mas isto tem que ser pensado e discutido com a família. Nada de precipitação”.

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