Por marlos.mendes

Moscou - A crise dos impressos e os desafios da migração para o online foram abordados na segunda mesa de debates do "Fórum dos líderes de veículos de comunicação dos Brics", evento realizado em Moscou reunindo profissionais de comunicação de Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul.

O jornalista Gilberto de Souza, editor-chefe do jornal Correio do Brasil, lembrou que a mídia brasileira ainda se concentra em cinco grandes famílias, que se beneficiaram financeiramente de favores de governos autoritários. “Eles floresceram muito na ditadura, o que inibiu o surgimento de outras empresas”, lembrou.

Noticiário sobre crise no Brasil é debatido em fórum dos Brics

Gilberto de Souza afirmou que os grandes jornais brasileiros formam um cartel e apresentam sempre manchetes muito semelhantes contra o governo brasileiro e sempre alinhadas com a visão americana. “A mídia brasileira pinta os países dos Brics como sociedades não desenvolvidas. Os próprios brasileiros falam mal do Brasil, escondem os Brics e qualquer notícia sobre o desenvolvimento de novas sociedades”. Ele destacou a importância do fórum para a criação de uma rede de informações democráticas e multilaterais, e da Internet como ferramenta para democratizar a produção e o acesso à informação.

Conteúdo gratuito
O russo Pavel Negoitsa, diretor-geral do jornal Rossiyskaya, recolocou o tema do Fórum ao público, falando sobre a necessidade de ampliar a rede de produção de conteúdo gratuito para facilitar a circulação de informações entre os Brics. O conteúdo gratuito deve ser “inspirado em pontos de vista humanitários, não para criar lendas, mas para levantar o nível cultural da Rússia
e serem acessíveis acessíveis a todos os países”. Como exemplo, Negoitsa ressaltou a necessidade de chamar a atenção do mundo para o drama dos refugiados da Síria e a tragédia da destruição de patrimônios da Humanidade pelo Estado Islâmico. “É impossível derrubar os monumentos, isso é barbaridade, podemos levantar uma onda contra isso” disse.

Para o russo, é preciso ter objetivos e falar sobre questões humanitárias, elevando os padrões educacionais e incentivando o turismo: “Queremos que as pessoas circulem, conheçam as atrações de nossos países, como nossa Praça Vermelha e o Muro da China.” O banco de conteúdo deve ser construído com o esforço de todos. Caso contrários, “nos próximos tempos estaremos separados uns dos outros.”

Banco de conteúdo comum dos Brics

Longe das questões partidárias internas de seu país, o indiano Saurabh Shukla, editor-chefe da Newsmobile, abordou a relevância de um banco de conteúdo comum dos países do Brics para trocar informações importantes sobre questões que preocupam a todos, como a luta contra o terrorismo, as catástrofes naturais e as mudanças climáticas.

O chinês Gao Anming, editor-chefe do Diário Chinês, também fugiu dos assuntos internos para conclamar os países a “elevar sua voz no mundo” e evitar que suas culturas sejam apresentadas de forma negativa pelas agências do Ocidente. Ele não abordou — e nem foi perguntado sobre isso — as questões de censura à imprensa pelo Partido Comunista, que governa o país.

Na opinião de Anming, os meios de comunicação deveriam desempenhar um papel mais importante na promoção da cultura e da economia de seus países e buscar uma cooperação estreita, uma confiança mútua para mostrar ao mundo, de forma objetiva, o que acontece, aos países dos Brics. “Uma cooperação fará nossa voz mais forte, e os estereótipos do Ocidente não vão nos pressionar”, afirmou. Ele afirmou que as novas tecnologias de comunicação não devem ser vistas só como ameaças aos veículos tradicionais, pois também “possibilitam abranger o mundo com mensagens informativas plurais”.

Anming é precisa estar preparado para a nova realidade do mercado. “Estamos entrando em um novo mercado informativo. Temos de entender como agir nesse novo mundo, mudar nossa opinião sobre tecnologias, entender os erros passados e entrar no mercado mundial. Temos de usar a experiência uns dos outros, favorecer nosso avanço tecnológico”, afirmou.

A pesquisadora da Universidade de Joanesburgo Ylva Rodny-Gumede, representando a África do Sul, disse que o Fórum deve buscar sua relevância na discussão das realidades estruturais dos países e evitar “questões menos importantes”. Ela ressaltou, como exemplo, as diferenças entre o Brasil e seu país, a África do Sul. “O Brasil é um dos países com maior variedade de veículos de comunicação. Na África do sul, temos a herança colonial, racial, ainda muito recente.”

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