Rio - No começo da semana, ele ficou rosa, para lembrar a campanha de prevenção ao câncer de mama. Ontem à noite, o Cristo Redentor recebeu projeções de imagens que lembram a visão, como um olho humano, a íris e até o tradicional teste feito em consultório de oftalmologia.
A ideia foi chamar a atenção para uma realidade que nem todo mundo vê. Hoje, mais de 6,5 milhões de pessoas sofrem com alguma deficiência visual no país. Dessas, 582 mil são cegas e 6 milhões possuem baixa visão. Mas especialistas alertam: 80% dos casos de cegueira podem ser evitados e tratados com algumas soluções de baixo custo.
Segundo o Vision Impact Institute, cerca de 40 milhões de brasileiros (20% da população) não têm acesso a tratamento oftalmológico. No mundo, o problema afeta 4,5 bilhões de pessoas, das quais 2,5 bilhões não se beneficiam de soluções corretivas. As doenças da visão vão das mais simples, como miopia e astigmatismo, até as mais graves e raras, como o glaucoma congênito, o cerocotone e a síndrome de Fuchs, que atingem a córnea e necessitam de cirurgia ou transplante. A maioria (75%) das alterações visuais não apresenta sintomas no início, mas 60% da cegueira é evitável e 20% é curável.
Coordenador do setor de córnea da Santa Casa, no Rio, e diretor do Instituto Provisão, o oftamologista Paulo Polisuk destaca que é fundamental fazer a avaliação médica. “Muitas doenças podem vir de forma inofensiva e, não sendo tratadas, podem se agravar, levando a um estágio mais avançado”, explica. A primeira consulta pode ser feita já aos dois anos de idade.
O comerciante Allan Vendramini, de 30 anos, sempre teve visão boa na adolescência até os 18, quando começou a sentir um desconforto, uma dificuldade para enxergar de longe. Três anos depois, o problema piorou e ele começou a sentir sua vista ‘afinando’. Procurou uma ótica para fazer os óculos, mas não houve melhora. Foi quando resolveu marcar uma consulta no oftalmologista e descobriu que estava com ceratocone, doença que atinge a córnea.
O médico sugeriu a cirurgia e ele não pensou duas vezes: se submeteu à operação. Hoje, Allan tem quase 100% da sua visão graças ao tratamento. “Se tivesse desde cedo me interessado um pouco mais no que eu sentia, teria economizado dinheiro e encontrado um jeito mais fácil de reverter a situação. Poderia ter sido menos relaxado com a minha visão”, diz ele. “Hoje estou até sem dor de cabeça. Antes era frequente”.
Doença começa na infância
Cerca de 2,2 milhões de crianças de 6 a 14 anos têm alguma dificuldade para enxergar, mas quase metade não relata aos pais por não ter consciência do problema. “Para se ter ideia, no Brasil, 22,9% da evasão escolar está relacionada a algum problema visual. Crianças com baixa visão são três vezes mais propensas a ser reprovadas, se comparadas às que possuem visão normal”, afirma Sandra Abreu, diretora do Instituto Ver& Viver.
Hoje, Dia Mundial da Visão, 3.400 alunos de quatro escolas públicas do Rio receberão exames oftalmológicos. Aqueles que precisarem, ganharão óculos de graça. A ação é realizada pelo Ver & Viver, em parceria com o instituto Nissan e as secretarias de Educação e Saúde do município.
Reportagem da estagiária Carolina Moura