Por marlos.mendes

Moscou - O tratamento dados pela mídia brasileira ao noticiário político e econômico em tempos de crise foi tema de debate entre o jornalista brasileiro Fernando Canzian, da Folha de S. Paulo, e o russo Dmitry Kiselev, diretor da agência de notícias Sputnik (Rossya Segodnya), mediador do “Fórum dos líderes de veículos de comunicação dos países dos Brics”. O evento realizado em Moscou reúne profissionais de comunicação de Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul.

Crise dos veículos impressos e desafios comuns aos países dos Brics

Primeiro brasileiro a falar no evento Canzian, da Folha de S. Paulo, surpreendeu ao dedicar seu pronunciamento a problemas políticos internos do Brasil. Ele citou os escândalos de corrupção, atacou a presidente Dilma Rousseff e disse que o país vive uma “tempestade perfeita”, com crises econômica e política ao mesmo tempo.

Canzian, justificou o movimento pelo impeachment de Dilma, acusando-a de mentir na campanha à reeleição. “O Brasil teve muitos conflitos, escândalos. Agora, nossa presidente não aparece na televisão porque ninguém quer ver”. E incluiu o ex-presidente Lula na análise: "A popularidade da presidente não é muito alta. A de Lula também não.”.

Os representantes dos demais países, falando em seus idiomas, abordaram temas globais, principalmente a produção e circulação de notícias, as novas tecnologias da informação e os conflitos internacionais, e tentaram apresentar seus países como nações culturalmente ricas, mas apresentadas de forma negativa pelas agências de notícias ocidentais.

Realismo ou otimismo?

Canzian lembrou que o Brasil tem previsão de crescimento abaixo de 1,5%, inflação acima de 10% ao ano e a maioria da população vivendo com menos de 600 dólares por mês. Falando em inglês, destacou que a situação é difícil para todas as empresas, especialmente os meios de comunicação.

O brasileiro disse que a Folha de S. Paulo, apesar de ter o maior portal da América Latina, não escapa dos efeitos da crise econômica, e que, nos últimos 10 anos, as redações demitiram e editoras fecharam. O jornal que há 20 anos vendia 1,5 milhão de exemplares por dia hoje tem tiragem de 400 mil, com vendas caindo ano após ano. “A concorrência é que nos estimula para a vida. Estamos tentando concentrar esforços e usar tecnologias inovadoras com menos pessoal”, disse.

O mediador do encontro, diretor-geral da agência russa de notícias Sputnik (Rossya Segodnya), Dmitry Kiselev, manifestou seus “sentimentos” pelos problemas financeiros comparou a abordagem da Folha e dos veículos russos. Segundo Kiselev, durante a última crise russa, a maioria dos veículos levava em conta a necessidade de estimular a esperança da população. “Alguns dizem que a situação é pior do que é, mas outros apresentam ao leitor as expectativas de sobreviver, o estímulo para se reciclar, procurar novos trabalhos, ou seja, preferem uma mensagem de otimismo.”. Para o russo, a esperança é determinante para superar a crise. "Fazemos do jornalismo um campo de reflexão positiva. Todo país tem responsabilidade pela procura de caminhos para sair da crise”, sugeriu.

Objetividade para alertar os leitores

Na opinião de Kiselev, a crise descrita por Canzian no Brasil não é tão grave. “Os números não são muito dramáticos, nem os da inflação nem o da renda de 600 dólares. Existem países com nível muito menor de renda e com uma visão muito mais otimista”, comparou. “O que vocês falam para seus leitores? Eu trabalhei na Ucrânia de 2000 a 2006 e vi como a imprensa local mostrava o pais pior do que ele era. As vendas dos jornais caíram, a profissão do jornalista ficou menos respeitada, as pessoas confundiram jornalistas com políticos, com relações públicas”, concluiu.

O jornalista da Folha respondeu que a imprensa brasileira não tenta ser pessimista nem positiva, mas realista. “A situação é muito difícil, os números da economia são catastróficos e, se não tomamos medidas severas, será muito difícil sair da crise”. Ressaltou que a inflação é 10% ao ano, o pais é muito pobre, famílias vivem com salários abaixo de 600 dólares por mês e, com a inflação alta, a renda cai 7% ao ano. “Temos que ser realistas, não temos que tentar dizer que as coisas vão melhor do que estão. Nosso objetivo é apresentar informação verdadeira para alertar pessoas para economizar, entender o que está acontecendo. Nosso jornal tenta mostrar a situação objetiva. É muito importante superar os problemas que temos. As posições da presidente Dilma são muito fracas, todo mundo sabe que ela mentiu na campanha campanha eleitoral”, avaliou.

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