Rio - A recente suspeita de que a Angelina Jolie esteja com anorexia nervosa reacendeu o debate sobre a doença entre pesquisadores, especialistas e sociedade. O drama da atriz — que supostamente teria sido diagnosticada com a doença, fazendo com que seu marido Brad Pitt propusesse que ela tire um ‘ano sabático’ para se tratar — está sendo usado para alertar a população em relação à doença.
Também chamada de Transtorno do Comportamento Alimentar, a anorexia tem como principal alvo 90% das mulheres. Dados afirmam que menos de 1% das adolescentes desenvolvem o quadro, tendo início entre 14 e 15 anos. Essa é a doença psiquiátrica que mais mata, com o índice de mortalidade de 20% a 25% dos casos. O transtorno é causado, muitas vezes, pela influência da mídia, da busca do corpo perfeito e da cultura feminina bombardeada por restrições alimentares.
As características básicas para obter um diagnóstico é a perda de peso, a insatisfação com o corpo e a obsessão em emagrecer cada vez mais, tendo seu IMC (Índice de Massa Corporal) abaixo de 17,5. A atleta Aline Barreto, campeã de dez títulos brasileiros de fisiculturismo, contou que no fim de sua gestação, engordou 25 quilos em quatro meses por comer de forma errada. Dois meses depois de seu filho nascer, ela começou sofrer o distúrbio alimentar.
“Quase não me alimentava, comia sempre o mínimo possível pois ao meu ver ainda estava com os 25 quilos a mais.” Ela conta que sua ‘ficha caiu’ quando assistiu a um programa de TV na qual uma menina que sofria desse distúrbio e seus sintomas eram parecidos com os dela. “Retornei aos treinos de musculação e voltei a me alimentar corretamente”.
De acordo com o psiquiatra José Carlos Appolinario, do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (Gota), o tratamento para essa doença é multiprofissional, envolvendo psiquiatras, psicólogos, nutricionistas e clínicos gerais. Esse tratamento envolve uma forma de Psicoterapia Cognitiva Comportamental, sendo bastante benéfica para a pessoa.
“É bastante importante a presença de um nutricionista na fase da recuperação para ajudar a fazer uma realimentação, que pode ser de maneira oral ou através de uma sonda nasogástrica”, afirma. Appolinario alerta para os sintomas, de modo que quanto mais rápido for o diagnóstico, mais chance de a pessoa ter uma recuperação tranquila.
A estudante de Letras Rayane Andrade, 21, contou que teve anorexia nervosa aos 13 anos. Ela afirma que a causa da doença foi a combinação entre pressão escolar, estresse e preocupação familiar. Isso fazia com que ela esquecesse de comer e ao se alimentar o seu organismo rejeitava porque estava acostumado a não ter comida.
"Eu tinha perdido muito peso, desmaiava com frequência. Minha pressão baixava e eu passava mal”, conta. O hospital para onde foi levada aconselhou Rayane a procurar um psicólogo. Desde então, pediu ajuda para sua mãe e seu tratamento com psicólogo e psiquiatra durou quase dois anos. Hoje ela está recuperada.
De acordo com Appolinario, a prevenção da anorexia está relacionada à conscientização da sociedade a respeito do corpo. "São manifestações, estudos e pesquisas que levam o indivíduo a pensar de forma crítica a respeito do padrão do corpo. Isso diminui o impacto que a mídia oferece e há também o desenvolvimento de programas feitos em escolas e comunidade, no intuito de educar as pessoas em relação ao risco dos transtornos alimentares", explica.
Reportagem da estagiária Carolina Moura