Por felipe.martins

Rio -  Já pensou em ter um personal trainer que cabe, duplamente, em seu bolso, tanto em tamanho, quanto em preço? Essa é a nova moda entre os brasileiros — aplicativos de celulares que organizam gratuitamente sua agenda de exercícios e até gerenciam seu progresso em séries de musculação.

O Nike+ Training Club é um dos principais apps da categoria, e já conta com mais de cinco milhões de downloads em sua conta. Além de auxiliar na motivação e monitoramento do treino, ele possui mais de 100 sequências de exercícios, criados por atletas internacionais. Já o FitBit, com mais de 10 milhões de downloads em sua conta, permite contar calorias, registrar peso, gravar pressão arterial e níveis de glicose.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (BMEE), Daniel Arkader Kopiler, essa nova tendência responde a uma demanda do mercado, e pode estimular mais pessoas a praticarem exercícios. “Obviamente, os aplicativos são uma alternativa mais barata. Tanto é que as próprias academias estão investindo na inserção de ginástica à distância, e isso é bom, porque pode atrair cada vez mais pessoas a saírem do sedentarismo”, explica.

Sem sair de casa%2C é possível realizar exercícios%2C dança e pilates com a ajuda dos aplicativos gratuitosDivulgação

Segundo o Ministério do Esporte, 67 milhões de brasileiros são sedentários — quase metade da população (46%). Para a produtora de eventos, Bianca Bueno, de 22 anos, o aplicativo BTFit foi uma saída para a correria diária. “Perco muito tempo no trânsito e não gostava de ficar presa ao horário da academia. Hoje, faço dança, pilates, abdominal — tudo em casa! Virei fã”, conta ela, adepta do aplicativo criado pela academia Bodytech.

Apesar de admitir que a malhação em uma academia possa ser muito mais intensa, ela fica feliz em não estar parada. “Não vou ficar mega sarada, mas foi uma alternativa para não deixar o corpo parado, para cuidar da saúde. Além disso, ainda uso um aplicativo de ponto de dieta, uma espécie de ‘vigilante do peso’, para me manter em forma”.

Para Kopiler, é preciso cautela. A falta de supervisão de profissionais de Educação Física pode acarretar problemas. “As pessoas que não são avaliadas por um profissional tem um risco muito maior de sofrer contusões, por exemplo. Além disso, o aplicativo não tem como saber se ela está executando o exercício adequadamente”, conclui. 

RISCO EM FALTA DE ACOMPANHAMENTO

Para a produtora de eventos Bianca Bueno, a autonomia proporcionada pelo aplicativo foi essencial para sua escolha. Hoje, ela e a mãe fazem, inclusive, aulas de dança juntas em casa. “Às vezes quando chego cansada ela me anima e acabamos fazendo. Essa liberdade é bem bacana. Fazemos aulas de abdominal, de pilates, de flexão. É difícil você fazer errado. Tem todo um vídeo que te explica, não é apenas uma foto”.

Em geral, as pessoas querem algo simples, rápido e eficiente. E os aplicativos atendem a essa demanda. São práticos. Essa praticidade, porém, vem acompanhada de um prejuízo: o do cuidado com a saúde. Para o diretor da Escola de Educação Física da Uerj, Edson de Almeida Ramos, a presença de um profissional da área é fundamental para o acompanhamento do exercício. “Muitas vezes, as pessoas não estão preparadas para receber a carga de exercícios que o aplicativo irá recomendar. O que vale pra você, não necessariamente vale para mim. A pessoa se entusiasma, mas pode se prejudicar”, conta.

Para Daniel Arkader Kopiler, presidente da SBMEE, o ideal seria fazer sempre uma avaliação antes de iniciar a prática de exercícios. Além disso, junto com o aplicativo, deveria ter “uma avaliação de um professor, para que ele indique sobre parte muscular, flexibilidade e articulações.”Os aplicativos já começam a pensar nisso e oferecem, por taxas simbólicas, em torno de R$ 15, o acompanhamento de um personal trainner, inclusive, com dicas pelo Whatsapp.

Apesar de alertar para os riscos de lesões, Kopiler defende a importância desses exercícios: “Existem aplicativos que quantificam as pequenas tarefas realizadas no dia a dia e trabalham com um sistema de metas. Assim, eu desço dois pontos antes do ônibus, para andar mais, e escolho as escadas ao invés do elevador. O pedômetro (contador de passos) age para que eu me supere, todo dia, um pouquinho. E os aplicativos incentivam, avisam quando você se superou, e te estimulam, pois você pode compartilhar com os seus amigos”.

Reportagem da estagiária Marina Brandão


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