Rio - Mariana, de 3 anos, mal sabia falar quando começou a usar, sozinha, o computador da avó. A menina tinha apenas um ano e seis meses, e deixou a mãe, Luciane Domingos, assustada ao mostrar intimidade precoce com a tecnologia.
“Ela grava áudios, diz ‘bom dia’ nos grupos do WhatsApp, manda figurinhas e fotos, e as pessoas acham que fui eu. Mas é difícil controlar, às vezes ela pega o celular quando vou ao banheiro”, explica Luciane, que tenta restringir o uso de eletrônicos pela filha.
O contato cada vez maior e frequente de crianças na primeira infância com estes dispositivos preocupa especialistas. A psicóloga da Santa Casa da Misericórdia Simone Freitas afirma que o uso das tecnologias para os pequenos pode ser tão nocivo quanto o de drogas ilícitas. “A cada ponto ganho, o cérebro da criança fica mais dependente”, aponta. Para Simone, é importante que os pais não incentivem o uso de smartphones, tablets e notebooks por crianças menores de cinco anos
Novas formas de tratamento para a dependência de redes sociais e jogos eletrônicos, que aumenta ainda mais entre adolescentes e jovens, e preocupa especialistas, serão debatidas em um simpósio internacional sobre tabaco, álcool e outras drogas, que acontece de amanhã até sábado no Rio.
“Hoje em dia se acredita que seja considerado um problema psiquiátrico, uma dependência como outra qualquer, como álcool, tabaco, maconha, cocaína. No Brasil, esta dependência está começando agora, mas seguramente é um número que cresce cada vez mais”, afirma a psiquiatra Analice Gigliotti, que organiza o evento.
Segundo ela, determinadas pessoas são mais propensas a ficar mais dependentes. “Você começa a perceber um prejuízo do adolescente, da criança. Eles se isolam, se escondem. É uma maneira de fugir da realidade real por meio de uma realidade virtual. É uma forma de ter uma outra personalidade, ser uma outra pessoa. E isso acaba dando prejuízos reais — em sua saúde, vida acadêmica, vida afetiva, relações sociais”, explicou.
prejudicam a criançada
A psicóloga Simone Freitas alerta que os eletrônicos podem influenciar no desenvolvimento social e cognitivo das crianças, que necessitam mais da presença dos pais do que dos smartphones.
“O importante é que os pais não entreguem isso às crianças, no lugar da atenção que eles mesmo devem oferecer a elas”, completa Analice Gigliotti.
Para ela, a internet e as redes sociais não são necessariamente prejudiciais. “Não tem como você impedir que crianças tenham acesso a isso, mas limitar o uso de internet em uma ou duas horas por dia já ajuda”.
Para a especialista em Gestão e Planejamento Educacional Infantil Ester de Carvalho o uso de smartphones é nocivo ao aprendizado. “Tenho alunos que acessam redes sociais, mas não sabem ler corretamente”, lamenta Ester, que trabalha com crianças de 3 a 14 anos.
Colaborou a estagária Marina Brandão