“Toda mulher quer chegar bonita, com tudo em cima, na Sapucaí. Eu fui para a Avenida ainda em recuperação. Te dá dor, a fantasia é muito pesada e acaba te machucando. Tem que dar o tempo certo para o corpo se recuperar, não pode fazer nenhum esforço”, conta ela, que trabalha como enfermeira e conhece bem os riscos. Chris diz que não teve complicação, mas não aconselha a estripulia a ninguém.
Já psicólogos e psiquiatras advertem: a preocupação excessiva com a aparência pode ser patológica. “Não é vaidade demais, é transtorno, tem que ver como doença”, diz a psicóloga Maria Cristina Ramos Britto. Segundo ela, o fato de usar anabolizante e fumar quatro maços de cigarro por dia pode ter contribuído para que Raquel tivesse uma reação alérgica, possivelmente. “Mas e antes? Ela já tinha feito várias intervenções. Pessoas como ela não se conformam. A patologia só foi aumentando, a insatisfação não desaparece”, explica ela, especialista em transtornos alimentares, de obesidade e de imagem. Segundo ela, o transtorno dismórfico corporal, dismorfofobia ou síndrome de Quasímodo se apresenta quando há uma alteração da própria imagem — a pessoa se enxerga gorda quando está extremamente magra, por exemplo. Geralmente, isso está associado a outro transtorno de personalidade, bipolar ou borderline.
“Às vezes não é só pressão da mídia, a pessoa já tem predisposição para desenvolver isso ou teve infância muito complicada. Pais também contribuem, dando excessiva importância ao corpo, ao aspecto estético”, explica ela, que recomenda, nestes casos, terapia cognitivo comportamental. Para o o psiquiatra Rodrigo Pessanha, primeiro é preciso fazer um diagnóstico correto. “A pessoa pode ter vários tipos de transtornos psiquiátricos. Até mesmo medicamentos podem ser usados para ajudar a retomar percepção de si própria, mais coerente com a realidade”.
Luciana de Abreu, dermatologista da Clínica Dr. André Braz, em Ipanema, diz que no fim do ano e começo do verão aumenta a procura por preenchimentos para corrigir rugas, olheiras, “ruga da marionete” (alto da boca), bigode chinês (o procedimento a que Raquel teria se submetido), bochecha caída, bem como preenchimento de lábios e tratamentos para clarear manchas, reduzir gordura localizada, celulite e estria. Tudo isso usando ácido hialurônico, o mesmo teria sido aplicado em Raquel.
“São procedimentos que podem ser feitos no consultório. Isso exige treinamento para conhecer a estrutura anatômica, a quantidade e a viscosidade do produto que vai usar, além de acompanhar de perto o paciente, para ver se haverá algum sinal diferente para que dê tempo de intervir, caso necessário”, explica.
Preparo para os primeiros socorros
Acostumado a realizar preenchimentos com botox e ácido hialurônico, um profissional, que pediu para não se identificar, conta que complicações durante estes procedimentos são comuns em consultórios, mas geralmente não levam à morte. “Ninguém gosta de falar do que dá errado, mas aconteceu algo bem parecido com um colega. A paciente havia usado cocaína, ficou ansiosa, a frequência cardíaca subiu e ela teve uma parada respiratória. O colega chamou uma ambulância e a levou a uma emergência. É preciso ter preparo para dar suporte de primeiros socorros para uma eventualidade dessas”, contou.
Segundo o cirurgião plástico Renato Tatagiba, há procedimentos estéticos que podem ser feitos em consultórios. Mas antes é preciso se informar e sempre fazer cirurgias, como lipoaspiração, em centros cirúrgicos. “Uma pessoa que atua na clandestinidade pode não usar materiais certos”, destaca.
Já pequenas intervenções como hidrolipo e pálpebras, podem ser feitas em consultórios de dermatologistas credenciados. “Quem faz à margem disso, está correndo risco e também põe o paciente em risco”.
Em busca de menor preço, paciente pode arriscar a própria vida, diz médico
No ano passado, por conta da crise, as brasileiras perderam para as americanas o posto das que mais recorrem a cirurgias plásticas, mas ainda se mantêm como campeãs quando a intervenção envolve o rosto ou o corpo. “O movimento só aumenta”, diz Renato Tatagiba, há 20 anos na atividade. Mas há que se pesar o risco e o benefício.
“Não tem legislação que proíba, qualquer médico com CRM pode fazer qualquer coisa, depois ele responde pelo que vai fazer. Em outros países não é assim”, conta. Para Tatagiba, na procura por um procedimento mais barato, de resultado rápido, muitas pessoas acabam atropelando o mais importante, que é a segurança. “A mídia distorce. Facebook e Instagram também, com promessa de resultados surreais. Vende-se um peixe que muitas vezes não tem”, diz, referindo-se à suposta propaganda de celebridades atendidas por Wagner Moraes, casado com Ângela Bismarck.
Biomédica formada há quatro anos, Fernanda Guimarães, 26, já se submeteu a vários procedimentos pelas mãos de colegas da clínica estética onde trabalha: botox na testa, ultrassom e mesoterapia para gordura localizada. Aos 22, fez lipoaspiração e em novembro, resolveu reduzir os seios e colocar silicone. “Procurei um médico renomado, indicado por outras profissionais. Foi tudo perfeito e em um mês, estava livre para tomar sol e fazer atividade física”, conta.