Por nara.boechat
Belo Horizonte (MG) - Depois de anos sem grandes obras na área de mobilidade urbana, o Brasil passa por um importante ciclo de investimentos. São R$ 60 bilhões já anunciados pelo governo federal para projetos do setor em cem cidades de todo o Brasil até 2016 (alguns prorrogáveis até 2018), segundo levantamento da ONG Embarq Brasil, com base nos dados de três Programas de Aceleração do Crescimento (PACs da Mobilidade, das Cidades Médias e da Copa). Entretanto, todo esse dinheiro pode não ser bem aproveitado por falta de planejamento. A opinião é de especialistas que participaram do segundo debate do Observatório da Mobilidade, promovido em parceria com o 3º Congresso de Boas Práticas da Associação Latino-Americana de Sistemas Integrados e BRT (SIBRT), realizado de 4 a 7 de junho em Belo Horizonte.
O Transoeste faz parte da rede que está sendo construída no Rio%3A considerado uma exceçãoPaulo Alvadia / Agência O Dia

“O problema do Brasil não é falta de recursos. Faltam bons projetos para as cidades”, disse o especialista sênior em transportes do Banco Mundial, Georges Darido.

O presidente da Embarq, Luis Antonio Lindau, lembra que a Lei 12.587/2012 obriga os municípios a apresentarem seus planos de mobilidade até 2015. Entretanto, a maior parte das cidades têm de iniciar seus empreendimentos antes disso por causa dos recursos da Copa de 2014. “Não é que devam deixar de realizar as obras, mas podiam inclusive utilizar os recursos dos PACs para fazer os planos de mobilidade”, afirmou. Ele reclama que há falta de profissionais qualificados para o planejamento, porque não houve investimentos no setor por 30 anos.<EM>

Rio é exceção
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Para o presidente da SIBRT, Jaime Lerner, algumas cidades usam os recursos em projetos que estão focados somente para atender aos eventos esportivos e não às demandas da população. “Vemos projetos de modais para o deslocamento entre aeroporto e estádio. Isso não faz sentido”, afirmou, sem mencionar quais cidades.

Ele lembrou, no entanto, que Belo Horizonte e Rio são exceções, com projetos estruturantes, como a rede de BRTs em implantação.
O secretário geral da SIBRT, Luis Antônio Gutiérrez, criticou o caso de São Paulo, em que a prefeitura passou a definição do traçado do BRT para os construtores. ”Isso mostra problema de falta de planejamento”. Darido rebate: o plano pode até ser feito pela iniciativa privada, mas o poder público e a sociedade têm que controlar.
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Lerner: BRTs são soluções melhores
Os projetos de BRT são apontados como os melhores investimentos para solucionar os problemas de mobilidade urbana, segundo os participantes do debate. O urbanista Jaime Lerner, que criou esse sistema em Curitiba, em 1974, afirma que, pelos altos custos, as cidades brasileiras nunca terão uma rede completa de metrô, como as de algumas metrópoles européias, que construíram seus sistemas há mais de um século.
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“A melhor solução para um país é um sistema que se paga e tem grande adesão, nos investimentos, da iniciativa privada”, afirmou, lembrando que cabe ao poder público a construção das vias e, à iniciativa privada, os equipamentos. Ele diz ainda que os sistemas de BRTs, muitas vezes, operam em condições melhores do que os metrôs.
Opinião: Georges Darido, especialista do Banco Mundial
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“O problema do Brasil não é falta de recursos. Faltam bons projetos para as cidades. (...) O projeto pode até fazer parte de um pacote, que inclua planejamento, construção e operação, a ser executado pela iniciativa privada. Mas o poder público e a sociedade têm que controlar e participar do planejamento.”
Em debate
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Luis Antonio Lindau, presidente Embarq Brasil: “Não é que devam deixar de realizar as obras (financiadas com recursos dos PACs e da Copa), mas podiam inclusive utilizar esses recursos para fazer os planos de mobilidade urbana. Um dos motivos da falta de planejamento é a falta de profissionais qualificados, porque não se fez nada em mobilidade no Brasil nos últimos 30 anos.”
Jaime Lerner, urbanista e criador do sistema BRT: “Vemos projetos de modais para o deslocamento entre aeroporto e estádio. Isso não faz sentido. (...) Cidades como Belo Horizontes e Rio de Janeiro são exceções, que têm projetos estruturantes, como os BRTs que estão em contrução. (...) As cidades brasileiras nunca terão uma rede de metrô completa. É muito caro e os BRTs, muitas vezes, operam em condições melhores.”
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Luis Antonio Guitiérrez, secretário-geral SIBRT: “Realmente, no Brasil há falta de planejamento. Em São Paulo, por exemplo, a prefeitura passou a responsabilidade de definir o traçado do BRT para os consórcios construtores. Não pode isso. Isso mostra um problema de falta de planejamento.(...)Tem que se pensar em BRTs com o conceito de rede integrada. Os BRTs têm que ser bem feitos e depois bem operados.”
Marcio Lacerda, prefeito de Belo Horizonte: “As pessoas em querer resolver os problemas que foram criados em décadas de falta de investimento de forma imediata. Antes de melhorar, temos de ter três ou quatro anos de investimentos pesados. Os BRTs (que devem começar a operar entre janeiro e fevereiro), serão um elemento importante para melhorar o transporte público e o trânsito de Belo Horizonte.”
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Ramon César, presidente da BHTrans: “Os BRTs quando estiverem em funcionamento em Belo Horizonte vão reduzir em até 50% os tempos de viagem da população. Os corredores exclusivos vão reduzir também o número de ônibus na ruas. Com isso, os congestionamentos na região do centro da cidade vão diminuir também. É bom para passageiros e motoristas.”
Reportagem de Amanda Raiter e Claudio de Souza
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