Brasília - O Brasil está longe de atingir a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de desenvolver ações capazes de diminuir em 50% o número de mortes em acidentes de trânsito até 2020. O desafio foi lançado em 2011, mas, de lá para cá, as vias nacionais ficaram ainda mais mortais. Atualmente, acidentes dessa natureza matam 22,3 a cada 100 mil habitantes, cerca de 5% a mais do que era registrado naquela ocasião. Se for mantida esta tendência, daqui a sete anos, o aumento será de 10%. E isso apesar dos avanços da Lei Seca, implantada há cinco anos.
Os números foram apresentados ontem pelo secretário geral do Fórum Internacional de Transportes (ITF, na sigla em inglês), José Viegas, no 19º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito, em Brasília. O executivo mostrou ainda que cerca de 80% das mortes em rodovias acontecem em países de renda média, como o Brasil.
“O brasileiro está ganhando o suficiente para comprar carro particular. Isso é comprovado com o aumento da frota. Mas o carro ainda é novidade para estes motoristas mais recentes. E isso influência na forma que eles dirigem e na educação deles no trânsito”, disse Viegas, mostrando que a Argentina teve comportamento semelhante, subindo em 3% os óbitos desde 2011.
O secretário citou países da Europa como exemplo contrário. Em Portugal, nos últimos três anos, as mortes em acidentes viários já diminuíram 30%. Na década passada, o campeão de boas práticas foi a Espanha, que reduziu em 64% os óbitos.
Educação
"Juntos, a falta do cinto de segurança, o excesso de velocidade e o uso de bebida alcoólica representam 50% das mortes. Tem que priorizar campanhas que mostrem isso. Depois é investir na segurança das vias e dos veículos”, avaliou. O presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense, faz um alerta: “Os governos e os cidadãos precisam priorizar o transporte público. Isso evitaria muitas mortes”.
Países precisam ter critérios rigorosos para dar carteira
Para José Viegas, do ITF, é importante que os governos estabeleçam critérios mais rigorosos para conceder a permissão para dirigir. “Tem que ser mais enérgico, principalmente com os mais jovens. Não dá para juntar a euforia de dirigir com a da bebida. É uma ou outra”, sentenciou, sendo emendado por Ailton Brasiliense: “O ideal seria investir em simuladores. Aí sim os motoristas estariam mais preparados para sair de situações complicadas. Hoje em dia, basta saber andar para trás e para frente e fazer uma provinha para ter a carteira. O resultado disso é a morte”. Brasiliense reclamou ainda da falta de dados seguros sobre mortes no Brasil.
Para o presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, investir em transporte público de qualidade é o mesmo que aumentar a qualidade de vida da população. “Não dá para admitir que o cidadão perca três horas por dia em um engarrafamento. Isso representa um custo por ano de R$ 27 bilhões”, afirmou Lélis.
Viegas contou que em seu país (Portugal) há mais tolerância com o consumo de álcool pelos motoristas pela tradição cultural do vinho.
Desde 2004 dados pioram
Ailton Brasiliense lembrou que em 2004 o Brasil perseguia a meta de reduzir o número de mortes no trânsito para 11 por 100 mil habitantes em 10 anos. Na época, eram 18 óbitos por 100 mil habitantes. “Mas, ao invés de evitar a tragédia, o país aumentou o número de mortos”, comentou.
No mundo todo, cerca de 1,24 milhão de pessoas morrem todo ano por causa de acidentes nas rodovias. O número total de feridos chega a 50 milhões.