Por daniela.lima
Alexandre Sansão é secretário municipal de TransportesJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Rio - Profissional concursado da Companhia de Engenharia de Tráfego há 18 anos, Alexandre Sansão acaba de assumir, pela segunda vez, a Secretaria Municipal de Transportes e já enfrenta uma baita responsabilidade. É ele que vai comandar a interdição do principal eixo viário da cidade, a Avenida Brasil, de hoje até quarta-feira. Apesar de reconhecer que esse período será “péssimo” para o carioca, ele diz que o trânsito não é sua maior dor de cabeça no momento.

“O que me preocupa mesmo é avançar mais rápido na qualidade do serviço de ônibus”, afirma o mestre em Engenharia de Transportes, que tem um perfil diferente do falante e político antecessor, Carlos Osório, de quem era o braço direito. Um pouco tímido, ele prevê melhoras nos engarrafamentos em parte da cidade com a inauguração do BRT Transcarioca, que começa a funcionar antes da Copa, com pelo menos três estações: Galeão, Vicente de Carvalho e Barra. Já no Centro, ele diz: “Alívio só em 2015.”

ODIA: Como o senhor avalia esse momento em que assume a secretaria ?

SANSÃO: Aqui nunca tem moleza. Eu assumi pela primeira vez em 2009 (e ficou até 2012) e nós tivemos que organizar uma secretaria que estava sem condições de trabalhar. Reassumo agora num momento em que as coisas estão acontecendo. Uma boa parte foi planejada na minha primeira gestão. Então, não posso culpar ninguém por estar enfrentando obras, dificuldades, desafios. Tudo teve minha participação. Ajudei o prefeito Eduardo Paes a tomar decisões sobre projetos importantes para a cidade e, agora, isso está sendo colocado em prática. E agora esse é o maior desafio.

O Transcarioca fica mesmo pronto para a Copa?
Vai ficar pronto. Não tenho a data. Nem o prefeito sabe. São tantas frentes simultâneas, desapropriações, viadutos, pontes, tantos detalhes, duas empreiteiras, envolvimento com aeroporto. Há tanta coisa afetando essa obra que não dá para dar uma data definitiva. Mas estamos correndo para terminar um mês antes da Copa (a competição começa em 12 de junho). Vamos tentar. Eu garanto até a Copa.

Com quantas estações?

Não teremos todas as estações (45) na Copa. Vamos fazer etapa por etapa. Para o Mundial, precisamos das estações do aeroporto, Vicente de Carvalho, onde tem a integração com o metrô, e no Terminal Alvorada (Barra da Tijuca). Estas estão entre as primeiras, mas ainda não temos o número de estações que teremos no início da operação.

E BRT Transbrasil? Teve a licitação suspensa e está atrasado.

O Transbrasil não é um compromisso olímpico. Será um legado para a cidade. Não sei se vai servir aos Jogos. É uma obra muito complicada pela extensão. Tem uma entrada no Centro, que já está coberto de intervenções. Teve suspensão de licitação, mas isso faz parte. Estamos empenhados em entregar o Transbrasil em 2016, se possível antes das Olimpíadas.

E o trecho do Caju ao Centro, por que não teve ainda o projeto concluído e recursos garantidos?

O projeto ainda está indefinido, não sabemos quanto vai custar esse trecho. Não podemos levar o BRT à Rua Primeiro de Março, como foi previsto antes, e, então, estamos estudando alternativas. O que temos certeza é que vamos levar ao coração do Centro, que hoje está entre a Praça Mauá e o Castelo.

Mudando de assunto, três dias não é tempo demais para fechar a Avenida Brasil nesta semana?

Eles (os responsáveis pelas obras) estão fazendo milagre. Se você examinar a apresentação da obra, o içamento do arco... o estaiamento. Na verdade isso tudo vai ser feito em dois dias. Na segunda e na terça. Na terça-feira, acho que vai ser péssimo para quem quiser circular pela cidade de automóvel ou de ônibus. Demos até sorte de ter esse feriado prolongado. Nós teríamos que passar por isso em algum momento e escolhemos o menos pior dos períodos. Se a pessoa puder evitar trafegar de carro ou de ônibus pela região, que faça isso, porque será preciso ter paciência.

O que mais lhe preocupa hoje na cidade?

Não é o trânsito. Embora o trânsito seja uma coisa que afete a todos nós, a gente sabe que é necessário. Não é uma catástrofe, a cidade não está se recuperando de um terremoto. O que me preocupa mesmo é avançar mais rápido na qualidade do serviço de transporte por ônibus, que é a maior responsabilidade da secretaria. Passamos por um processo de reestruturação jurídica do setor. Em 2009, não havia a base contratual que temos hoje. Eram 47, 48 permissionários. Impossível gerenciar. Se você tirava a linha, o empresário ia à Justiça e revertia. Abrimos uma licitação (em 2010) e temos agora contratos claros com quatro consórcios.

O que falta então para melhorar a qualidade?

O BRT já melhora horrores. São ônibus muito melhores, rodam mais rápido, com câmbio automático, ar-condicionado, tarifa paga antes. Além do BRT, precisamos organizar o sistema de tráfego para dar mais velocidade operacional, mais organização às vias, mais corredores BRS. E temos de exigir dos operadores o treinamento dos motoristas, a modernização da frota, o cumprimento de horário, respeito às gratuidades e à acessibilidade.

O senhor abandonou ideias de sua primeira gestão, como o rodízio de placas para restringir carros?

Abandonei. Não sou contra. Mas no Rio, nesse momento, eu sou contra. O Rio ainda precisa dos investimentos em mobilidade, para as pessoas terem alternativas de transportes, como em Londres e Cingapura. Você estimula a pessoa a usar transporte coletivo, controla a quantidade de carros na rua. Aqui ainda não tenho como dizer ao dono do carro que ele deixe de usar o carro e ande de ônibus, porque ainda não conquistamos uma qualidade no serviço suficiente para pedir isso. Não vamos adotar o rodízio, a não ser, talvez, nas Olimpíadas. Isso é uma possibilidade. Vamos decidir quando estiver chegando mais perto. Agora, no dia a dia, isso está fora de cogitação.

Seu antecessor disse que 2013 seria o pior ano do trânsito? Quando o carioca vai ver as melhoras?

Com a Transcarioca sendo inaugurada agora, o trânsito para boa parte da cidade vai melhorar muito. Todos os bairros que serão atendidos pela Transcarioca terão melhora sensível de trânsito e de transporte, como Madureira, Penha, Vicente de Carvalho, Ramos, Jacarepaguá, que vão ganhar grande qualificação de mobilidade. No Centro, ainda não, porque ali ainda há obras para fazer ao longo deste ano. Então, no Centro não vai ter alívio, não. Alívio no Centro só a partir de 2015, mas também acho que agora não piora mais, não.

Você pode gostar