Por thiago.antunes

Rio - Motoristas e passageiros precisarão ter ainda mais paciência para circular pela Avenida Brasil a partir deste mês de novembro, mas por um bom motivo. A via, uma das mais importantes e saturadas da cidade, terá trechos parcialmente interditados para o início da construção do corredor exclusivo de ônibus articulados que ligará Deodoro, na Zona Oeste, ao Centro: o Transbrasil, pelo qual devem passar 820 mil passageiros por dia. 

A Prefeitura do Rio ainda não especificou, no entanto, o trecho da via que será interditado inicialmente nem o dia deste mês em que as obras vão começar. A primeira etapa do empreendimento terá obras de Deodoro até o Caju, totalizando 23 quilômetros dos 30 previstos. A construção do trecho, que custará R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos, chegou a ser adiada quatro vezes por questionamentos durante o processo licitatório.

As empresas OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão venceram o certame, finalizado no início de outubro. O financiamento será feito em parceria com o governo federal, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana.

Confira o traçado do BRT TransbrasilArte%3A O Dia

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, demonstrou preocupação com os reflexos no trânsito: “É uma obra muito complexa. A gente tem que ir devagar para não ser tão traumático o impacto dela na cidade. Pode até ser que demore um pouco mais. Vou dizer que deixo meu governo com ela quase totalmente pronta”, disse ontem, em compromisso de agenda. Como Paes exerce o mandato até o final de 2016, a declaração pôs fim à especulação de que o empreendimento poderia ficar pronto para as Olimpíadas, mesmo não sendo um compromisso olímpico.

“Será um superbanho de loja. A Avenida Brasil se degradou muito ao longo dos anos”, completou Paes.
Os sete quilômetros restantes do Transbrasil, do Caju até o Centro, passando pelas avenidas Presidente Vargas e Francisco Bicalho, estão a cargo da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp). A empresa da prefeitura informou que ainda não há previsão para o início dessas obras.

Linha Vermelha e Dom Hélder Câmara prejudicadas

As obras na Avenida Brasil ainda nem começaram mas já ligaram o alerta de especialistas em mobilidade urbana. Para o professor Alexandre Rojas, da UERJ, vias que servem como alternativa à Brasil serão prejudicadas com o aumento de fluxo. “A Linha Vermelha vai ficar ainda mais saturada, e o trânsito na Avenida Dom Hélder Câmara também deve piorar. A previsão é que, com o início das obras, haja enorme dificuldade para quem usa a Brasil e, desta forma, tente escapar dela”, pontuou.

Construção do Transbrasil é dificultada pela complexidade de se interditar faixas da Avenida Brasil%2C que tem intenso fluxo de veículosSeverino Silva / Agência O Dia

Para Eva Vider, professora da Escola Politécnica da UFRJ, o ideal é que o primeiro trecho da obra comece o mais afastado do Centro possível. “Quanto mais longe do Centro, melhor, porque a região já está bastante impactada pelas obras da Zona Portuária”, disse. “As obras de Bonsucesso até o Centro só devem começar após o término das intervenções no porto, mas a população ainda não sabe se isso vai ocorrer”, afirmou. 

Ambos os especialistas cobraram mais transparência da Prefeitura do Rio na divulgação do cronograma de obras e no que diz respeito às medidas adotadas pelo município para amenizar os temidos reflexos na cidade.

Corredores Transoeste e Transcarioca já transportam 400 mil por dia

Quando o Transbrasil for concluído, fechará o anel viário de 155 quilômetros composto também pelos corredores expressos Transcarioca, Transoeste e Transolímpica. Os corredores BRT Transoeste e Transcarioca, já inaugurados, transportam juntos 400 mil passageiros por dia. O Transcarioca, aberto em junho, começou a funcionar por etapas e atualmente transporta 216 mil passageiros por dia em 39 quilômetros. Ele conta com 47 estações e passa por 17 bairros.

O BRT Transoeste foi inaugurado há dois anos, tem 52 quilômetros de extensão, e liga Campo Grande e Santa Cruz à Barra da Tijuca. O tempo de viagem com o empreendimento, que transporta 184 mil passageiros por dia, caiu 40%.

O Transolímpica, que ligará Deodoro ao Recreio dos Bandeirantes, por um túnel que está sendo perfurado no Maciço da Pedra Branca, terá 26 quilômetros de extensão. O empreendimento, que fará ligação com o Transcarioca e o Transoeste, custará R$ 1,6 bilhão e tem previsão para ficar pronto em dezembro de 2015. Faz parte do ‘pacote olímpicos’.

Quatro terminais e 28 estações

Quando o BRT Transbrasil estiver totalmente pronto, contará com quatro terminais — Deodoro, Trevo das Margaridas, Trevo das Missões e Centro — e 28 estações no trecho entre Deodoro e a região central da cidade. O intervalo entre cada estação terá cerca de 1,3 quilômetros, e também serão construídas 15 passarelas para a travessia de pedestres.

O Transbrasil será atendido por dois terminais intermediários (Margaridas e Missões), conectando o corredor às rodovias federais BR-116 (Rio - São Paulo) e BR-040 (Rio - Juiz de Fora). O primeiro trecho, que começa a ser construído este mês, contará com 16 estações e cinco novos viadutos. Outros seis viadutos e quatro pontes já existentes serão alargados para que possam suportar mais veículos.

A velocidade média dos ônibus da Avenida Brasil vai passar dos atuais 23 para 36 quilômetros por hora, segundo previsões da prefeitura. Um aumento de 56%.

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