Por adriano.araujo

Rio - Maratona é como a cadeirante Alessandra da Silva Gomes, de 24 anos, define a própria rotina da ida e volta ao trabalho. Moradora do Centro de Niterói e assistente administrativa em uma empresa do Centro do Rio, ela conta que o caminho é de muitas dificuldades.

A batalha começa quando a barca atraca na Estação Araribóia, em Niterói. Alessandra precisa pedir ajuda para superar o desnível entre a plataforma e a estação. Etapa vencida, ela fica na dúvida entre esperar ônibus Centro do Rio ou o metrô.

Afinal, de acordo com ela, se for de ônibus, precisará de paciência e tempo. “Muitos ônibus não param para deficientes. É impressionante. Tenho que me esconder e pedir para uma pessoa não cadeirante fazer o sinal.”

Alessandra diz que muitos ônibus não param quando ela faz sinalFabio Gonçalves / Agência O Dia

Ela conta que chega a perder 30 minutos vendo passar vários ônibus da mesma linha até embarcar. “Além disso, é comum ver que o motorista não sabe usar o elevador. Uma vez tentei explicar como funcionava, e o motorista até zombou de mim.”

As dificuldades de Alessandra, pelo menos na teoria, deveriam estar com os dias contados. O Decreto Presidencial 5.296, publicado no Diário Oficial da União em 3 de dezembro de 2004, estabelece que toda a infraestrutura dos serviços de transporte coletivo deveria estar acessível para as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida no prazo de dez anos. O prazo vence no dia 2 de dezembro de 2014.

Mas, apesar de as concessionárias dos serviços de transporte garantirem que já cumprem a legislação, casos como o de Alessandra continuam rotineiros. E acontecem seja por mau funcionamento dos equipamentos ou pela atuação inadequada dos profissionais.

Cassiano Fernandez, de 27 anos, outro cadeirante, também conta as dificuldades que encontra pelas ruas. Ele evita os ônibus, pois são poucos os que têm elevadores funcionando.

Fernandez explica que no metrô já encontrou um elevador quebrado e foi orientado a pegar o que descia para o sentido oposto. “Tive que atravessar um trem para trocar de plataforma e uma das portas fechou em cima da minha cadeira”, disse.

Situação é pior no interior

?Se, nas grandes cidades, a situação é ruim, nas menores o quadro é ainda mais grave. O coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte (MDT), Nazareno Affonso, explica que após o decreto, passaram a ser fabricados apenas ônibus adaptados.

Mas eles foram comprados por empresas das grandes cidades, que, com a renovação da frota, venderam os veículos velhos para o interior. “Lá, vai demorar para se ter frota com elevadores para cadeirantes, por exemplo”, lamentou ele.

Fernandez evita os ônibusAgência O Dia

A superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Teresa Amaral, já duvida que a acessibilidade será totalmente cumprida no prazo da lei: “Temos sempre que entrar com Ação Civil Pública para garantir a acessibilidade. No trem, ainda há estações totalmente inacessíveis.”

O MetrôRio informou ter 260 equipamentos de acessibilidade em suas 36 estações do Rio. Já a SuperVia, concessionária dos trens metropolitanos, afirmou que vai reformar todas as estações até 2020, com investimento estimado em R$ 376 milhões. A empresa garantiu que o acesso de deficientes já é garantido atualmente com auxílio de funcionários.

A Rio Ônibus, associação das empresas de ônibus, garantiu que toda frota é adaptada. Além disso, informou que mantém programas contínuos de treinamento dos motoristas.

A CCR Barcas alegou que receberá até 2015 nove embarcações com acessibilidade a deficientes. Mas garantiu que passageiros contam com pontes móveis e equipe treinada para ajudar no acesso às barcas.

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