Dubai (Emirados Árabes Unidos) - Visto por fora, mais parece um trem moderno do que um bonde, nome de seu antepassado, que, em inglês, “tram”, ainda é mantido. No Brasil, no entanto, esse novo meio de transporte foi batizado de Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) e deve estrear no Rio em abril do ano que vem. O DIA foi conhecer o modelo Citadis, o mesmo que será instalado nas seis linhas que ligarão o Centro à Zona Portuária e que, desde novembro, já circula pelas ruas de Dubai.
A cidade nos Emirados Árabes Unidos foi a primeira do mundo a ter um VLT 100% livre de catenária, ou seja, sem os cabos aéreos de energia para alimentar os veículos. O Rio será a segunda. O sistema, chamado de APS e desenvolvido pela fabricante do Citadis, a francesa Alstom, fornece eletricidade pelos trilhos, que são energizados somente no exato local onde a composição está passando.
A versão carioca teve algumas adaptações por causa das especificidades da cidade. “Nos cruzamentos das linhas com avenidas de tráfego muito pesado, o APS exigiria maior manutenção. Então, no Rio, a melhor solução foi um sistema híbrido de APS e capacitores, que são baterias carregadas enquanto o veículo circula nos trechos de trilhos energizados”, explica o diretor de Mercado e Portfólio da Alstom Transport, Christian Messelyn. O executivo diz que, além da vantagem no aspecto visual, já que não há fios cortando a cidade, o projeto sem catenária causa menor interferência urbana, reduzindo riscos de interrupção do serviço com quedas de árvores ou acidentes.
Com interior amplo, sem divisórias entre os módulos (vagões), o VLT Citadis é silencioso. O ar-condicionado, projetado para as temperaturas que chegam a 50 graus no verão de Dubai, será o mesmo na versão carioca, garantiu o subsecretário de Concessões e Parcerias Público-Privadas (PPP) do Rio, Gustavo Guerrante. “A diferença é que temos mais chuvas. Por isso encomendamos um sistema APS à prova d’água que é um pouco mais caro, mas o VLT funcionará mesmo se houver alagamento das vias.”
Assim como em Dubai, cada composição carioca terá sete módulos e capacidade para levar até 415 passageiros. Quatro meses após a inauguração, o VLT da cidade árabe transporta 10 mil pessoas por dia e tem a meta de chegar a 26 mil passageiros diários. “O VLT está em uma área limitada de Dubai. Eu uso para ir até a estação do metrô”, diz o estudante Abu Muhammad Lili, de 24 anos. No Rio, será muito mais gente e a integração com outros meios de transporte também será chave para o sucesso. A prefeitura espera até 300 mil passageiros por dia. Enquanto em Dubai são 11 VLTs em 11 quilômetros, aqui serão 32 veículos em 26 quilômetros.
Rio estuda ampliar Bilhete Único
A versão carioca do VLT terá os validadores de bilhetes dentro dos veículos. Em Dubai, esses equipamentos ficam nas estações que são fechadas, com refrigeração, mas sem roletas, coisa que também não existirá no Rio. A validação dos cartões será feita por iniciativa dos passageiros. “Em todos os VLTs é assim. Nossa experiência no mundo, mostra que as pessoas que não pagam a passagem chegam a no máximo 15% do total. Em ônibus, que tem um controle maior, as fraudes são, em média, 10%, e nos metrôs, de 5% a 7%”, afirma Messelyn, da Alstom.
No Rio, a prefeitura espera uma evasão em linha com o resto do mundo. “Vamos ter multas se a pessoa não marcar o cartão. Além disso, a maioria usará o Bilhete Único”, diz Guerrante, acrescentando que a prefeitura estuda ampliar o limite do período de uso do Bilhete Único de 2h30 para 3h, quando o VLT começar a operar.
?Primeiro veículo chega até junho
Na aparência, o VLT do Rio terá pequenas variações, já que a carenagem externa é customizada em cada projeto. O protótipo do modelo carioca estará na Cinelândia, aberto a visitação, a partir deste domingo.
No espaço interno, o Citadis de Dubai foi ligeiramente alterado para ter primeira classe na frente e área exclusiva para mulheres. No Rio, Guerrante, da Secretaria Especial de Concessões e PPPs, disse que ainda não está definido se haverá módulo feminino, como nos trens e no metrô.
A primeira composição deve chegar ao Rio neste primeiro semestre. A Alstom produzirá os cinco primeiros veículos na França e os outros 27 na fábrica em Taubaté (SP), inaugurada no início do ano. Segundo Guerrante, até abril de 2016, estarão em operação três linhas do VLT, conectando a Rodoviária ao Santos Dumont, pela Rodrigues Alves e Rio Branco, com 14 quilômetros de trilhos e 24 estações. As outras linhas têm previsão de funcionar até setembro de 2016.
?O jornalista viajou a convite da Alstom