Por thiago.antunes

Rio - O que vai mal sempre pode piorar. Só neste ano, o setor de transportes deve amargar perdas de R$ 3 bilhões em investimentos públicos voltados para melhorias em infraestrutura rodoviária, ferroviária, portuária e aérea em todo o país. A estimativa é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o órgão, os R$ 14 bilhões que seriam aplicados pelo governo federal este ano nos quatro modais devem cair para R$ 11 bilhões. As causas seriam o ajuste fiscal promovido em época de crise econômica e o acúmulo de dívidas dos estados e municípios.

De acordo com o Ipea, somando os investimentos públicos e privados, o setor deverá receber aportes de R$ 30 bilhões neste ano. O valor é apenas 0,55% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e quase se equipara aos 0,6% que vêm sendo investidos anualmente de 2010 a 2014, mas graças ao aumento da participação privada. Segundo o pesquisador Carlos Campos Neto, que dirigiu o trabalho, outros países emergentes, como Rússia, Índia, China, Coreia, Vietnã, Chile e Colômbia, aplicam 3,4% do PIB — seis vezes mais que o Brasil — a cada ano para projetos de mobilidade.

Obras da Linha 4 do metrô não devem ser afetadas%2C já que fazem parte do compromisso olímpico%2C mas liberação de verbas para futuros projetos pode ser prejudicadaBruno de Lima / Agência O Dia

“Esse percentual é muito baixo. O Brasil precisa multiplicar pelo menos quatro vezes o atual patamar de investimentos em transportes para eliminar os gargalos acumulados ao longo de 25 anos de subinvestimento”, afirma o especialista, ressaltando que, mesmo com os investimentos em transportes saltando de 0,26% do PIB, em 2003, para 0,6% atualmente, ainda há muito a se fazer. “Se o país quer ter disponível uma infraestrutura adequada ao tamanho e à importância de sua economia, tem que investir”, alerta Campos Neto.

Para ter uma ideia da falta que esses recursos fazem, com R$ 3 bilhões é possível, por exemplo, implantar três sistemas de BRT com a estrutura do Transoeste, que transporta 180 mil passageiros por dia, distribuídos em 57 estações e 51 quilômetros de corredor. Ou construir quase toda a Linha 3 do metrô, prevista para ligar Niterói a São Gonçalo e orçada em R$ 3,5 bilhões. A obra foi praticamente descartada pelo governo estadual em razão da crise financeira e pode dar lugar a um projeto de BRT.

Jogos Olímpicos seguram os aportes no Rio

Na avaliação do Ipea, o cenário vai continuar cinzento em 2016, já que os investimentos — públicos e privados— deverão subir pouco, saindo de R$ 30 bilhões para R$ 31,89 bilhões. Como o órgão não considerou os problemas financeiros de empreiteiras envolvidas em casos de corrupção, os valores podem ser ainda menores.

“O Rio será das poucas cidades que não sofrerão descontinuidade de projetos até 2016, em função dos compromissos assumidos para os Jogos Olímpicos”, diz o diretor da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Marcos Bicalho.

Para o presidente da Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro), Lélis Marcos Teixeira, os investimentos privados precisam ser estimulados a fim cobrir a redução dos aportes governamentais. “O Rio tem condições de dar um salto de qualidade em termos de mobilidade urbana, mas precisa priorizar o transporte público e uma política setorial continuada.”

Estudo realizado pelo World Resources Institute (WRI) no ano passado observou que, de modo geral, os gastos privados são ligeiramente maiores que os públicos no setor em todo o mundo. O investimento global em todos os modos de transporte gira entre US$ 1,2 trilhão e US$ 2,4 trilhões por ano.

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