Rio - ?Duas composições de VLT (veículo leve sobre trilhos), avaliadas em R$ 15 milhões, permanecem desde outubro de 2012, estacionadas em uma estação ferroviária desativada de Macaé, no Norte Fluminense. A partida para o Rio, anunciada ano passado pelo governo estadual para atender passageiros da Baixada Fluminense, esbarra em um impasse burocrático.
Em julho de 2014, a Secretaria Estadual de Transportes avisou que os VLTs começariam a circular até o fim do ano no Ramal Guapimirim, entre Saracuruna (Duque de Caxias) e Magé. Mas os veículos ainda não têm sequer prazo para sair do lugar.
A história começou em 2010, quando o então prefeito da cidade, Riverton Mussi, gastou R$ 25 milhões em um projeto inicial de VLT, que incluiu a compra das duas composições. O atual prefeito, Aluízio dos Santos Júnior, o Dr. Aluízio (PMDB), conta que quando assumiu, em 2013, foram feitos estudos que mostraram a inviabilidade econômica do projeto. Segundo ele, os veículos foram encomendados de um fabricante no Ceará sem que houvesse projeto e financiamento necessários para obras que permitiriam a reutilização da antiga ferrovia da cidade.
Com os VLTs sem destinação, ele conseguiu um acordo com o governo para repassar as composições ao estado, mediante o recebimento de R$ 15 milhões. Esta será a primeira parcela do total de R$ 60 milhões para a construção de uma estrada considerada importante para o município — o Arco Viário de Santa Tereza, a ser financiada pelo estado. O termo de compromisso com o estado foi assinado depois que a Câmara de Vereadores aprovou um projeto de lei da prefeitura, dando aval para a cessão dos trens.
Dr. Aluízio explica que não liberou as composições porque a obra atrasou por conta de problemas na licitação. Por isso, o governo estadual ainda não pagou a primeira parcela do acordo — de R$ 15 milhões —, que cobriria o prejuízo dos trens. “Através da lei, atrelamos ao convênio que essas composições só iriam para o governo do estado a partir do momento em que a primeira parcela entrasse. Até a obra começar e o valor ser pago, a gente não pode sumir com dois trens”, disse o prefeito.
Segundo Dr. Aluízio, a licitação para construção da rodovia acabou de ser concluída. Mas ele ressalta que ainda restam o projeto executivo e os licenciamentos ambientais para a obra sair do papel, o que não tem previsão para terminar. “A licitação de uma estrada é um processo que se inicia e não sabe quando termina devido aos recursos judiciais. Essa licitação começou há um ano. O governo só vai transferir o dinheiro quando a obra tiver medição”, afirma.
Novas compras canceladas
O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, reiterou que o início das obras em Macaé está demorando mais do que o previsto e se comprometeu a colocar os VLTs na frota da SuperVia assim que Macaé liberar. “Estamos prontos para operar os VLTs se Macaé entender que pode repassar os veículos antes de receber o dinheiro por reconhecer que a obra atrasou”.
Em julho de 2014, o estado anunciou que iria licitar a compra de mais sete VLTs para o Ramal Saracuruna, mas a operação foi cancelada porque o Banco Mundial não liberou os recursos.
Destinação para o Rio é polêmica
O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, estima que a entrada dos VLTs no Ramal de Guapimirim dobrará as partidas diárias entre Magé e Saracuruna. Atualmente, oito viagens são realizadas nos dias úteis. Apesar disso, segundo a SuperVia, mais de 4 mil lugares são ofertados diariamente, enquanto a demanda é de 354 passageiros.
O especialista em Engenharia de Transportes Alexandre Rojas, da Uerj, considera que a baixa demanda não justifica o gasto. “O VLT tem razão de existir em Macaé porque há um tráfego intenso entre as cidades daquela região. No ramal Guapimirim, não.”
Segundo Osorio, as composições serão aproveitadas no ramal porque possuem características iguais às dos trens que circulam lá desde meados do século passado. “A cessão não é onerosa ao estado. O governo vai receber uma contrapartida por financiar uma parte maior da obra do Arco Viário de Macaé.”
Longa espera é rotina
O funileiro Luís Carlos Carriço Neto, de 60 anos, se desloca todos os dias de trem entre Saracuruna e Iriri, em Magé, onde mora. Se perder o que sai às 14h20 de Saracuruna, precisa esperar por um longo tempo um ônibus que o deixa longe de casa. Isso se não quiser esperar o próximo trem depois desse horário, que parte somente às 18h45. O último do dia. “A gente sofre, porque, de manhã cedo, o trem vem superlotado de Magé para Saracuruna”, relata.
O estado aguarda a liberação de R$ 600 milhões do Ministério das Cidades para fazer melhorias no sistema, entre elas a revitalização dos trilhos e dos trens de Guapimirim e Vila Inhomirim. A previsão é que esses investimentos sejam feitos a partir de 2017.