Por adriano.araujo

Rio - Quem acha que os engarrafamentos no Rio atrapalham a vida da população pode ter que começar a rever seus conceitos. Passageiros que passam cerca de duas horas dentro de ônibus, por exemplo, estão transformando os ônibus em sala de aula com o uso de aplicativos, cursos online e com professor e material didático.

O English On the Road, um curso de inglês sobre rodas, abrirá suas primeiras turmas em outubro. A empresa vai oferecer aulas dentro de um ônibus em percursos distantes como Barra da Tijuca-Centro. “Muitas pessoas moram em bairros dormitórios e levam de duas a três horas para chegar ao trabalho. Agora elas podem utilizar esse tempo para aprender inglês”, diz o dono da empresa, Miguel Barbosa. As aulas terão uma hora e 15 minutos, e serão ministradas uma ou duas vezes por semana.

Empresa vai oferecer aulas de inglês%2C a partir do próximo mês%2C no trajeto de ida e de volta do trabalhoDivulgação

Outra empresa que promete ajudar os passageiros de transporte público é a BizuBuzú. O aplicativo para celular será lançado em novembro como uma plataforma de cursos para se estudar no transporte público.

“Paramos para pensar em quanto tempo as pessoas perdem no transporte público e que esse tempo poderia ser usado de uma forma melhor”, contou a responsável pelo Marketing e Design da empresa, Rakell Simon, 28 anos. O projeto ganhou em 2013 um prêmio de Start Ups, empresas em fase de desenvolvimento, para financiar a criação do BizuBuzú.

A plataforma será freemium, com conteúdo gratuito ou pago. Oferecerá aulas de inglês, para o vestibular e concursos públicos, além de cursos sobre orientação financeira e empreendedorismo.

O economista Riley Rodrigues, especialista em competitividade industrial da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), autor do estudo sobre o tempo que as pessoas passam no trânsito na cidade, explica que o grande tempo nos deslocamentos ocorre porque a população se movimenta no mesmo sentido e no mesmo horário. “E sempre com o mesmo destino, o Centro do Rio ou de volta à periferia”, explica. O tempo médio é 140 minutos nos deslocamentos, mas em municípios como Japeri, o relógio pode contar 187 minutos.

Outra razão, segundo ele, é a falta de oferta de emprego nas regiões periféricas e pouca moradia onde há oferta de emprego. “Nesses trajetos mais longos não é difícil ver uma pessoas estudando para uma prova ou concurso”, afirma. É uma boa forma de aproveitar o tempo.

?Serviços no exterior

O gerente comercial Walter Cavalcanti, 46 anos, é um dos futuros alunos do English On The Roads. “Eu não tenho horários fixos, então é complicado entrar em uma aula normal. Até já procurei professores particulares, mas eles não tem muita flexibilidade de horários como preciso”, explica. Ele leva cerca de três horas no trânsito, para ir do condomínio onde mora na Barra até o Centro, onde trabalha<.

Porém, antes mesmo que as empresas tivessem despertado para o mercado, cariocas já davam seu jeitinho de aprender algo no tempo gasto de ônibus. É o caso de Rodrigo Dias, 29 anos, que aprendeu inglês nas viagens.

“Eu ouvia o podcast Eslpod.com feito por um americano”, contou. Podcast é uma tipo de programa de rádio disponibilizado pela internet. Na época ele era chefe do seu departamento e precisava fazer ligações e guiar visitas na empresa em inglês.

“O curso normal não serviria. Eu precisava de inglês naquele momento. Tive que colocar a cara a tapa”, explica. Hoje, depois de quatro anos passando diariamente três horas no trem ouvindo os episódios e estudando, Dias está com o idioma afiado.

“Fui para um congresso em Houston há algumas semanas. Mesmo com o vocabulário específico, não tive problemas”, contou, satisfeito, o mestre em Engenharia Eletrônica.

Fora do Brasil, a ideia de oferecer serviços no trajeto do trabalho também está ganhando espaço. A Leap é uma empresa da Califórnia que transformou ônibus em pequenos bistrôs. Assim, o cliente pode tomar café, conversar em mesas e usar uma conexão conexão wi-fi enquanto se desloca até seu serviço.

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