Por nicolas.satriano

Rio - O anúncio da retirada de circulação de 700 ônibus que passam pela Zona Sul até a Olimpíada foi comemorado por aqueles que sofrem diariamente com congestionamentos. Mas, além dos benefícios para a mobilidade urbana que a redução de 35% dos veículos irá proporcionar, o meio ambiente e a saúde pública também agradecem.

Com base em números divulgados no site da Fetranspor quanto à rodagem média dos coletivos no Município do Rio de Janeiro, e em estudos realizados pela Coppe-UFRJ, O DIA calculou de quanto será a redução de alguns dos principais poluentes gerados pela combustão dos motores.

Meio ambiente e a saúde pública também agradecem. Clique na imagem para ampliarArte O Dia

Para o levantamento foi considerado o mês de dezembro de 2014 — de quando foi divulgado o último balanço. Na ocasião, cada veículo da frota rodou, em média, 236,43 quilômetros por dia. De acordo com o relatório final do Inventário de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores do Rio, do ano de 2011, a cada 16 quilômetros rodados, um ônibus emite 300 quilos de gás carbônico (o principal causador do efeito estufa e do aquecimento global) na atmosfera.

Logo, diariamente, a emissão chega a 4,43 toneladas por coletivo. Se somados os 700 veículos que deixarão de circular até os Jogos Olímpicos, a redução na emissão do poluente pode alcançar 93.082 toneladas por mês. Num só dia, serão menos 620 piscinas olímpicas abastecidas pelo gás negro que brota dos escapamentos e, por vezes, sufoca transeuntes.

Já no que se refere aos óxidos de nitrogênio — substâncias que, em excesso, atingem diretamente o sistema respiratório —, cada ônibus produz 0,27 grama por quilômetro, o que significa 63 gramas por jornada diária. Somados os ônibus que deixarão de existir, no espaço de 30 dias, a economia do poluente chegará a 1,33 tonelada, o que pode poupar série de internações por inflamações pulmonares.

Com os gases poluentes, de ponto em ponto de ônibus, por quilômetro, também é emitida 0,1 grama de material particulado, o que indica a concentração de diversas fontes de poluição oriundas da queima de combustível fóssil que possibilita o giro dos motores — nesse caso, diesel. Totalizando os 700 veículos, num período de um mês, chega-se a 496,5 quilos de material cujos males vão desde evidências na causa de câncer de pulmão até o bloqueio na respiração das plantas, responsáveis pela produção de oxigênio.

A engenheira Suzana Kahn-Ribeiro, uma das responsáveis pelo estudo da Coppe, ressalta que o fim da circulação de 700 ônibus e o encurtamento de outras 21 linhas (que farão baldeação na Zona Sul, onde os passageiros se locomoverão através de troncais em um número reduzido de ônibus que circularão por cinco rotas) também impactarão na emissão de poluição, mas de outra forma.

“O maior benefício da retirada das linhas será a fluidez do tráfego. Quando a velocidade média dos veículos aumenta (carros e ônibus), o consumo de combustível diminui, pois melhora a eficiência dos motores. Assim, a redução de emissões passa a ocorrer em toda a frota circulante. Esse é um importante efeito indireto, assim como a diminuição significativa de ruídos e poluição sonora”, explica ela, que lembra que nem todas as linhas que circulam pela Zona Sul atingem a média da cidade, onde existem rotas maiores, como as que vão para a Zona Oeste. Procurada, a Rio Ônibus não informou qual a quilometragem média em cada uma das 33 linhas que deixarão de existir

De acordo com o pneumologista Sérgio Rubens Figueiredo, os efeitos que as substâncias podem causar ao organismo tendem a variar, conforme o histórico de saúde de cada pessoa, bem como seus hábitos e a região em que passa a maior parte do tempo. “Os óxidos de nitrogênio e materiais particulados, ainda que inspirados em situações isoladas, podem acarretar inflamações graves e intoxicações do sistema respiratório, sendo especialmente nocivo a quem já apresenta males crônicos, como bronquite e asma”, ressalta.

Já o ambientalista Fernando Alguirres ressalta que a superprodução de gás carbônico, que em condições normais é necessária para a realização da fotossíntese, acaba se tornando o principal fator para o efeito estufa. “A combustão à base de carbono implica na capacidade da atmosfera de absorver calor. Os óxidos de nitrogênio também constam em estudos relacionados a chuvas ácidas, em regiões industriais (com concentrações muito maiores do que as do Rio), e a decomposição de material particulado pode bloquear os poros responsáveis pela respiração das plantas além de, uma vez no mar, passarem a compor parte da alimentação de peixes e crustáceos”, conclui.

Você pode gostar