Rio - Preocupam as recentes ações em torno do escândalo de espionagem trazido por Edward Snowden. As mais recentes vêm do Reino Unido. Primeiro, a arbitrária e desnecessária detenção do brasileiro David Miranda, companheiro do jornalista americano Glenn Greenwald, que investigou a história e a revelou ao mundo; agora, surgem indícios de medida igualmente totalitária: a ordem para inutilizar, nos arquivos do ‘Guardian’ — que primeiro publicou os estratagemas sob ciência de Obama —, os registros do caso, com a inacreditável ameaça de tornar na justiça a vida do jornal um inferno.
Invertem-se os valores com essa postura agressiva e injustificada. Numa pretensa e quase messiânica luta mundial contra “o terror” — inimigo amorfo, vago e multifragmentado —, emula-se o pior do autoritarismo. Para justificar e defender a vigilância eletrônica, por si só altamente questionável, cometem-se atos que, à luz da democracia, não se distanciam muito do crime. Por que David foi mantido preso? Que mal à humanidade ele podia fazer? Mesmo seu companheiro nada fez de errado. Tampouco Snowden, mas este, “o traidor”, será caçado com o mesmo afinco dispensado a Bin Laden.
E causa assombro o que se passa no ‘Guardian’. Alegaram que as informações de posse do jornal eram “secretíssimas” e que não podiam estar “tão descobertas”. Até que se prove a gravidade do teor dos documentos, a decisão do gabinete inglês soa como o pior da censura, principalmente nas sanções prometidas.
Mas mais incômodo vem das ações tímidas do governo brasileiro na defesa de David Miranda.