Rio - As diferentes agressões a médicos estrangeiros — especialmente aos cubanos — que se dispuseram a trabalhar no Brasil revelam o que há de mais sórdido no ser humano. Seja em comentários socados de racismo em redes sociais, seja na humilhante recepção com vaias e ameaças no aeroporto, a hostilidade já seria suficiente para enojar. Como partiu justo de profissionais da saúde, equipara-se a um vomitório.
Assombra ver médicos brasileiros praticando o pior do corporativismo diante de meia dúzia de voluntários — gente que aceitou um emprego antes oferecido à mão de obra nacional e por ela rejeitado. É imperioso ressalvar que o Mais Médicos jamais será a tábua de salvação de um sistema eivado de problemas. Mas busca amenizar falha crítica — a falta de pessoal. A patrulha classista, porém, desce o malho, como se da noite para o dia os diplomas aos ‘doutores’ brasileiros perdessem a validade.
Paralelamente aos insultos covardes, surgem mais e mais casos de desprezo ao paciente. O DIA mostra hoje nova leva de flagrantes de profissionais gazeteiros do Cardoso Fontes que ganham dois salários ao mesmo tempo, deixando dezenas de pessoas sem atendimento na rede pública. Certamente haverá desculpa esfarrapada para a manobra, mas o que sobressai é o escárnio.
Que os médicos brasileiros abram o olho. As manifestações de ontem repercutiram muito mal. Alimentadas por cada vez mais denúncias de fraude e menosprezo, podem minar a imagem da categoria — no lugar de profissionais devotados à vida humana, uma corja de interesseiros egoístas e corruptos.