Rio - A diferença entre os protestos de junho e os que estão acontecendo agora é que, daqueles, depreendia-se algo de positivo. As ruas infelizmente já não mobilizam os milhares que, há dois meses, se dispuseram a gritar por mudanças. Um grupo dos que seguem protestando, porém, insiste num discurso que a todos prejudica, sobretudo a eles mesmos. Após novo quebra-quebra e confronto com policiais, o bairro de Laranjeiras já se organiza para contratar segurança privada.
Pingos nos is: há muita coisa a fazer no Brasil, que sofre com incontáveis injustiças; na pauta de reivindicações de junho, pouco se avançou. Logo, é necessário continuar reclamando, pois o poder deu sinais inequívocos de que se sentiu acuado. Mas quando no lugar do argumento se usa de violência, que discurso fica? O que se consegue depredando um bairro inteiro, por mais de uma vez? Apoio popular é que não vai ser.
Laranjeiras não suporta mais o vandalismo que se tornou regra nos últimos atos. Até onde o direito de manifestação pode sistematicamente cercear o de ir e vir? E o primeiro jamais pode associar-se à destruição injustificada, cujo prejuízo será pago por toda a sociedade. A conta aumenta com a mobilização da polícia para conter a ira de uma meia dúzia. E sobe mais com a contratação de seguranças. Mas quem mais perde é justamente quem destrói, porque deixa de ter apoio e se isola.
Há meios mais civilizados para mudar o país. O voto é o principal, mas este só virá no ano que vem. Até lá, com diálogo e persistência, as mudanças surgirão. Com barbárie, elas podem vir, mas com efeito negativo.