Rio - O histórico das relações político-diplomáticas entre Brasil e Bolívia tem acervo de sobressaltos: a aquisição do Acre (1867), os Acordos de Roboré de exploração petrolífera pelo Brasil na Bolívia (1958), a nacionalização do gás e petróleo (com ocupação militar das instalações da Petrobras) pelo governo Evo Morales (2006), a trágica morte do jovem boliviano por sinalizador em partida de futebol entre Corinthians e San Jose (2013).
Agora essa rocambolesca crise diplomática em torno do senador oposicionista Roger Pinto Molina, asilado na embaixada do Brasil em La Paz — por um ano e meio. O encarregado de Negócios — jovem e corajoso Don Quixote —, Eduardo Saboia, organizou a fuga do senador boliviano e que, por meios não convencionais, percorreu longo caminho em carro oficial da embaixada brasileira em La Paz até a fronteira do Mato Grosso.
A crise externa bateu na política interna: mudou-se comando no Itamaraty e provocou discussão entre autoridades brasileiras sobre o estatuto de asilo diplomático e político. Resultado: para o governo Dilma, Molina é um imigrante comum (sua família já vive no Acre). Mas para o vice-presidente Michel Temer, o asilo concedido ao senador na embaixada brasileira em La Paz permanece válido aqui no Brasil.
A Advocacia Geral da União decidirá sobre novo asilo político para Molina permanecer em território brasileiro. Mas o presidente Morales quer a devolução já do senador para responder aos 22 processos juiciais em seu próprio país e julga o episódio ato de agressão à soberania boliviana.
O governo Dilma cederá à pressão de Morales para extraditar o senador? Esperemos que o encontro entre Dilma e Morales no Suriname ponha fim a esse enredo mal resolvido e que as relações entre vizinhos tão antigas possam voltar à normalidade e que as dúvidas sejam resolvidas para que tantos os negócios como a diplomacia sigam como marcas de sociedades maduras e democráticas! É ver para crer!
Clóvis Brigagão é cientista político, professor do Iuperj- Ucam e da Uerj-PPGRI. Coordena a Escola Sérgio Vieira de Mello (Epaz)