Rio - Tem méritos a iniciativa da Prefeitura do Rio de multar quem suja a cidade. A Lei Lixo Zero, exatamente por ser — ao menos na teoria — bastante rigorosa, caminha para mudar hábitos execráveis do carioca. Indícios de êxito? Parciais, quiçá inócuos, se nada for feito na outra ponta desse complicado processo. Tão importante quanto evitar que se jogue lixo na rua é cuidar de sua destinação — e aí a verdade da coleta seletiva insignificante surge, como O DIA mostrou ontem.
Não é razoável que apenas 170 toneladas de detritos das 9 mil geradas todos os dias no Rio passem pela triagem. A conta incomoda sobremaneira dos dois lados: pela ínfima soma de lixo reciclado e pelo colossal volume que aumenta monturos em escala bíblica. Por mais que se alardeiem funcionalidades de aterros sanitários ‘inteligentes’ e ‘modernos’, na prática se ocupam — e se condenam — terrenos para receber inservíveis. Solução burra e atrasada.
A reciclagem, mesmo nos processos mais rudimentares, dá sustento a centenas de famílias de catadores; ativa setores da economia voltados ao processamento de materiais; livra o meio ambiente. É positivo a prefeitura empreender esforços para chegar a 5% o total reciclado, o que ainda é vergonhosamente baixo, mas acima dos 3% da média brasileira e bem mais que os 2% de hoje no Rio.
Evidencia-se um atraso, mas há esperança. Multar sujões e reciclar mais são duas ações primárias para se chegar a outro patamar, mais evoluído, que consiste em produzir menos lixo. Claro que isso exigirá profunda mudança de mentalidade, alguma tecnologia e boa-vontade.