Rio - Não se sabe em que universo vivem as autoridades que cuidam do transporte do estado. Ontem contou-se o sexto acidente de maior monta no sistema de trens este ano, o que dá a sinistra média de quase um por mês — fora os enguiços corriqueiros, que também atrapalham os passageiros. Apesar disso, como se lê hoje no DIA, sobram elogios à concessionária, cuja habilidade em apresentar números parece inversamente proporcional à qualidade do serviço observado.
Apela-se a uma pouco crível teoria de vandalismo politizado, como se os trens fossem alvos frequentes de terroristas. Deveria-se esperar, então, ações semelhantes no metrô e guerrilheiros levando as barcas a pique. O que há, e nisso todos os modais se assemelham, é a falibilidade do sistema — rotineira e não raro grave, como os descarrilamentos e incêndios em vagões da SuperVia.
À parte um secretário com um otimismo no mínimo estrábico, incomoda mais a ineficiência da agência dita reguladora, tão ameaçadora como um ácaro. No detalhamento das ações, percebe-se que em 15 anos as multas somaram módicos R$ 5 milhões, dos quais nem a metade foi paga. Diante dessa desobediência, que se escancara escarnicada com tantas panes, chega-se a duas conclusões: ou os conselheiros são almas caridosíssimas a praticar o exercício do perdão, ou a agência é um clube de compadres — pagos com o dinheiro dos contribuintes — que pendura empregos para pouco ou nada fazer em defesa dos passageiros. O que não pode é continuarem usuários e autoridades públicas em planos distintos. Estão todos no mesmo barco, e ele está adernando.