Rio - Uma nova campanha para diminuir acidentes de trânsito entrou no ar domingo. A ideia é alertar para a violência dos acidentes que matam mais de 42 mil pessoas por ano, no nosso país, numa guerra assustadora e pouco divulgada. É uma boa, forte e necessária campanha. Mas é preciso ficar claro que, nesta guerra, não há só inocentes. Durante a semana inteira me tornei observadora desta relação entre motoristas, ciclistas, pedestres e motoqueiros.
É de dar medo, de dar raiva e ter vontade de nunca mais sair de casa para não ter que assistir, por exemplo, em plena Rua Marquês de São Vicente, na Gávea, a ciclista bem vestida, numa bike glamourosa, xingar e fazer gestos obscenos para o motorista de um carro popular que estava no seu pleno direito, ou seja, de circular pela via, com o sinal aberto para ele. Mas ela é uma ciclista e se sente no direito de fazer o que quiser. E não é só ela, não. Ciclistas detestam regras, andam sempre na contramão, parecem detestar motoristas e também parecem ser detestados por eles. O motorista de ônibus também se sente um ser superior e avança o sinal, vermelho para ele, quase esmagando a pobre senhorinha que atravessa a rua, com o sinal aberto para ela.
De novo, a que assistimos? Gestos obscenos, palavrões e impropérios, desta vez do motorista do ônibus. O sinal abre para os pedestres. Recomeça a guerra, a dondoca que fala ao telefone parou seu carro. Sabe onde? Em cima da faixa de pedestres e nem se abala. Nem ao menos tenta dar uma ré, para consertar o erro. Ela continua ao telefone, os pedestres têm que circular em torno do carro dela para atravessar a rua. Logo atrás da dondoca telefonista, outros motoristas, que estão parados no lugar certo, aceleram, ruidosamente, como que ameaçando os sem-carro.
Isto sem contar com as pessoas que acham que podem atravessar entre os carros, a dez metros da faixa de pedestres. Aí quem xinga são os motoqueiros que se esgueiram entre os carros, esbravejando contra os motoristas, dedo em riste, naquele gesto que parece ter sido inventado para os ódios do trânsito. E tem os motoristas que detestam o retorno marcado. Escolhem eles mesmos os retornos que preferem. Mesmo que não seja um retorno.
De briga em briga, assistindo sem querer a toda sorte de desaforos e sempre temendo ver uma agressão ainda mais violenta, seguimos nós engarrafados, por todo e qualquer bairro da cidade, presos a esta guerra sem fim, de manhã, de tarde, de noite e até de madrugada. Polícia? Guarda Municipal? Operadores de trânsito? Não. Não há nenhum deles. Estamos entregues à nossa própria sorte. Que Deus nos proteja. Que a campanha alerte e ajude! Na torcida!
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