Por thiago.antunes

Rio - Reduzidas as manifestações de rua, temos agora, em vários pontos do país, ocupações de espaços públicos: câmaras municipais, assembleias legislativas, calçadas da casa de políticos, etc. Nossas autoridades estão surpresas e assustadas. Antes, contavam com o concurso da grande mídia, que não dava importância a manifestações pontuais ou criminalizava-as, e a polícia agia com ação repressiva.

Agora, novos atores, difíceis de serem controlados, entraram em cena. É o caso das mobilizações convocadas através de redes sociais. O que há de novo é a inversão do poder político: o contrapoder popular. Até junho, autoridades e partidos ditavam a pauta política na qual a população devia ser enquadrada.

A classe política acreditava que só devia dar atenção ao povo de dois em dois anos, nos períodos eleitorais. Considerava a política uma roda-gigante movida pelo mecanismo de alianças e pactos partidários. 

Súbito, movimentos sociais decidiram recorrer à democracia direta e ocupar espaços que, de direito, são ‘casas do povo’, frequentemente usurpados por aqueles que deveriam nos representar, como no caso da CPI das empresas de ônibus no Rio, na qual a maioria dos vereadores que a integram foi contra a sua instalação. É a raposa investigando quem ataca o galinheiro...

O risco político desse processo (e protesto) popular é confundir o saudável suprapartidarismo com o nefasto antipartidarismo. Partidos políticos são, como o Estado, um mal necessário. 

A alternativa é uma profunda reforma política, que inclua mecanismos de transparência no exercício da atividade política, de modo que a soberania popular possa exercer controle sobre o desempenho dos políticos e das instituições públicas.

Escritor, autor de ‘Calendário do Poder’ (Rocco)

Você pode gostar