Rio - Será que consigo escrever e mandar esta coluna hoje? Será que consigo responder a meus e-mails, ou acompanhar o que acontece no Brasil e no mundo pela internet? Dormi e acordei com a sensação de que moro numa cidade do interior, perdida no tempo. Ontem não pude ver a novela das nove nem o futebol. E, agora, vocês vão saber o motivo e, com certeza, vão ficar perplexos. Como eu.
Tudo isto aconteceu porque uma Kombi pegou fogo no Túnel Zuzu Angel, em São Conrado. E daí, perguntarão os mais impacientes. E daí que a Net passa seus cabos por dentro do túnel? E daí que este fato apenas evidencia o quanto vivemos de maneira improvisada nesta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro? De jeitinho em jeitinho, seguimos em frente, fingindo que somos modernos, bem administrados e eficientes. Tudo falso. A gente vive mesmo numa imensa gambiarra. Nem vou falar do trânsito por conta do tal incêndio. Ficou péssimo, claro. Sempre fica. Piora por qualquer coisinha à toa, imagina no caso de um incêndio dentro do túnel.
O improviso é geral. Mesmo que você não circule nos trens da cidade, já deve ter visto na TV as imagens do povo espremido, disputando lugar até para colocar as mãos. Se usa o Metrô, sabe perfeitamente que ele não dá vazão, chega e parte lotado, quase amassando calcanhares que disputam espaço com as portas, perigosamente. Quem usa as barcas também vive num constante sobressalto. De carro também não é fácil. A cidade dorme e acorda engarrafada, com todo mundo perdendo tempo, se estressando, improvisando. Onde estão os técnicos estudiosos da vida das cidades? Alguém está repensando nossos problemas do dia a dia, em busca de melhores condições de vida? Duvido. E quando os gênios improvisados pensam é mais perigoso ainda. A última novidade em São Conrado, onde eu vivo, é a construção de dois conjuntos habitacionais para os moradores da Rocinha. Um deles em cima da estação do Metrô. O outro, na boca do Túnel Zuzu Angel.
Além de criar uma megafavela, ou megacomunidade, juntando Rocinha com a favela da Matinha e com o Vidigal, vão desmatar uma área de preservação e expor ainda mais os moradores aos perigos da autoestrada. A boa notícia é que, ao que parece, o Metrô não gostou da ideia de construírem prédios em cima da sua estação. E esta parte terá que ser revista. Mas a “rodoviária” que criaram ali perto do Hotel Nacional continua, reunindo linhas improvisadas e tornando o espaço público ainda mais degradado. Só pra lembrar: cadê o saneamento básico da Rocinha, sempre prometido e nunca executado? Será que não fazem porque saneamento não dá voto? Será?
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