Por adriano.araujo

Rio - Como é bonito ver a confiança que uma criança tem nos pais! Ao atravessar a rua, ela nem se preocupa em olhar pros lados para confirmar se não vem mesmo carro e é capaz até de se jogar de um lugar mais alto para os braços daqueles que ama, plena da certeza de que vão segurar. Para ela, tê-los por perto é sinônimo de segurança. Sabe que ser conduzida por eles não a prejudica.

Mas também é interessante notar que essa mesma criança não aceita ordens que contrariem sua vontade. Se é hora de ir embora daquela festinha que está legal, hora do banho ou de dormir quando gostaria de ficar mais tempo no videogame, se quer um brinquedo novo e não pode ter já ou quer subir em local perigoso e ganha um não, ela se revolta, fica emburrada.

Hoje tive a coragem de pensar que muitas vezes eu me porto como uma criança. E você, não?... Também me questionei sobre se passei mesmo daquela fase da adolescência, quando eu comecei a pensar que era dono do meu próprio nariz... Porque reconheci que geralmente me fecho no meu querer, nos meus sonhos e projetos, e não reajo bem quando sou contrariado ou impedido de fazer aquilo que sinto vontade.No entanto, quando rezo o Pai-Nosso, eu digo a Deus: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.”

Mas e se a vontade de Deus for diferente da minha? Será que estarei pronto para aceitá-la e vivê-la? Na teoria, sim. Mas e na prática? Ouvir “não”, “pare”, “chega”, diante de algo que queremos fazer dói. Mas também ouvir “siga”, “faça”, “não desanime”, “continue tentando” cara a cara com as situações das quais interiormente já desistimos é igualmente frustrante. Talvez você esteja se perguntando: “Ouvir, padre? Quem me dera se Deus falasse e eu ouvisse!” E eu te asseguro: ouvir, sim! Deus fala no seu coração, por meio da sua intuição, e também nas situações concretas do seu dia a dia, assim como fala comigo! Nosso erro, muitas vezes, é pensar que Deus está no que é abstrato apenas.

Ao rezar este trecho da oração, na verdade eu estou pedindo ao Pai que a vontade dele seja soberana, que vença o meu querer, que é tão limitado e egoísta. É espécie de desabafo, quando confesso que no fundo não sou capaz de saber o que é melhor para mim e para os outros e que por isso estou pedindo ajuda. É um sincero ato de entrega, como o daquela criança que nem olha para o lado ao atravessar a rua, porque sabe que está sendo bem conduzida, ou que sobe em um lugar mais alto e se joga, na certeza de que não vai se machucar, porque sabe que quem vai ampará-la a protege.

É lindo ter a certeza de que o amor que Deus tem por mim é cuidadoso e ilimitado, porque essa certeza é capaz de me levar a esse abandono de, na oração, me jogar, me lançar ao abraço do Pai. No aconchego desse encontro é que me sinto verdadeiramente livre para responder a ele: “Sim, pode fazer com que a tua vontade aconteça, porque eu confio no teu cuidado”. Se joga aí! O Pai te garante! ‘Tamu junto’!

Padre Omar é o Reitor do Santuário do Cristo Redentor do Corcovado. Faça perguntas ao Padre Omar pelo e-mail padreomar@padreomar.com. Acesse também www.padreomar.com e www.facebook.com/padreomarraposo

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