Por adriano.araujo

Rio - Sabe o sujeito que está sempre responsabilizando as pessoas pelos seus insucessos na vida? A eterna vítima de tudo e de todos. Nas relações interpessoais, revela o mecanismo de defesa da negação. Explico: não conseguem ver sua autoria nos acontecimentos que pratica e nas historias que conta; sempre está no lugar do ofendido.

Então, o culpado passa a ser sempre o imediato mais próximo. Nunca se dispõe a ver a si mesmo como a pessoa que provocou dado acontecimento. Se chamado para opinar em situações que não são de sua conta, topa na hora. Entra de cabeça e, quando repreendido, se lamenta de não ser compreendido, que agiu na melhor das intenções. Bom, de boas intenções o inferno anda cheio.

Uma das questões mais complicadas nas relações humanas é o encontro com o outro, justo aquele que não somos, o que difere de nós. Verdadeiramente, há uma tendência humana de acreditar que o mundo é composto de pessoas idênticas a nós. Só que não! O outro é, acima de tudo, um imaginário diferenciado, outra subjetividade que escapa por vezes à nossa percepção ou consciência.

Ninguém é ponto de partida ou referência para nada. Na fala comum, sempre escutamos: “Eu não faria isso; se fosse eu, não faria assim; você deveria fazer como eu.” Esse ‘eu’ absoluto sempre tenta dominar o outro e quer fazê-lo à sua imagem e semelhança, revelando o velho desejo neurótico de tudo controlar e a todos. É necessário aprender a conviver com a diversidade humana, absorver as diferenças. Afinal, existem muitas verdades!

Nesse quesito, encontramos aqueles nossos parceiros de vida que não aprendem com as experiências por imaturidade, por teimosia ou autoritarismo. Seja lá qual for a origem das repetições desses equívocos, sempre vamos encontrar o sentimento de vítima! O eterno desejo de impor seu modo de pensar em detrimento da singularidade do outro.

Assim, pensa a eterna arrogante vítima: “Estou sempre certo, sou uma ótima pessoa, eles que são os errados e me conduzem a enganos.” A vítima é a pessoa ingênua que nos cerca no cotidiano, à espreita de um acontecimento, nunca reconhecendo em si mesmo o problema. Não admite sua responsabilidade nas confusões que apronta, é o eterno sofredor incompreendido. Afinal, como vai se acostumar a viver sem sofrer?

Fernando Scarpa é psicanalista

Você pode gostar